Depois de negar o uso de um jato do empresário Joesley Batista para viajar para a Bahia em 2011, o presidente Michel Temer mudou o posicionamento oficial nesta quarta-feira (7) e disse que utilizou um avião particular para levar sua família a Comandatuba, no litoral do estado.
(Foto: Pedro Ladeira/Folhapress) Em nota oficial, o peemedebista ressaltou, no entanto, que “não sabia a quem pertencia a aeronave” e que “não fez pagamento pelo serviço” de transporte.
Em depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República), o empresário Joesley Batista afirmou que o presidente e sua mulher, a primeira-dama Marcela Temer, viajaram em jato particular do executivo da JBS quando o peemedebista era vice-presidente.
Segundo Joesley, a viagem de ida a Comandatuba ocorreu no dia 12 de janeiro de 2011 e a de retorno a São Paulo foi feita em 14 de janeiro de 2011, mesmas datas apontadas pelo Palácio do Planalto na nota oficial. A agenda do então vice-presidente, no entanto, não registra qualquer viagem à Bahia.
“O então vice-presidente Michel Temer utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete. A família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte”, disse.
O Palácio do Planalto não quis responder em que circunstâncias Temer usou o jato particular. Limitou-se a afirmar que ele não pediu a aeronave a Joesley e que vai prestar explicações “no devido momento”, dentro do inquérito aberto contra ele a partir da delação do executivo da JBS.
Na terça-feira (6), o Palácio do Planalto negou que Temer tivesse viajado a Comandatuba em janeiro e disse que o presidente só viajou àquele local em abril, em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).
Perguntada pela Folha, a Secretaria de Comunicação Social afirmou não ter registro de “viagem do então vice-presidente Michel Temer em avião particular do empresário Joesley Batista”.
Para justificar o recuo, auxiliares do presidente agora afirmam que o Planalto pesquisou a agenda de Temer em 2011 e não encontraram nenhum registro de qualquer viagem à Bahia naquela ocasião. O próprio peemedebista não se recordava desse voo.
Segundo a equipe do presidente, foi a primeira-dama Marcela Temer quem confirmou que o voo de fato ocorrera. Ela conversou com o peemedebista na noite de terça-feira, quando ele voltou ao Palácio do Jaburu, residência oficial.
A PGR pretende oficializar os dados informados pelo empresário nos autos do processo para apurar se a viagem ocorreu e como a informação será utilizada no inquérito sobre o presidente.
O objetivo do empresário foi demonstrar que tinha uma relação de bastante proximidade com o presidente, diferentemente do que o peemedebista tem afirmado.
Em entrevista à Folha, Temer reconheceu que conhecia o executivo antes da conversa que tiveram no Palácio do Jaburu, em março deste ano, mas disse que ele é um “falastrão”, “uma pessoa que se jacta de eventuais influências”.
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ÉTICA
Para deslocamentos tanto profissionais como particulares, o presidente e o vice-presidente têm direito à utilização de avião da FAB (Força Aérea Brasileira), não havendo a necessidade do uso de aeronaves particulares.
Pelo código de conduta, autoridades subordinadas à Presidência da República devem pedir autorização à comissão de ética para deslocamentos em meios de transporte privados, uma vez que a iniciativa pode configurar conflito de interesse.
ÁUDIOS
No encontro no Palácio do Jaburu, o executivo gravou o presidente em diálogo no qual é tratada a solução de “pendências” com o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no rastro da Operação Lava Jato.
O peemedebista ouviu do empresário que ele havia “zerado as pendências” com Cunha, no que sugere a compra do silêncio do ex-deputado federal, segundo a PGR.
O conteúdo da gravação baseou parte do pedido de abertura de inquérito apresentado contra o presidente pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que foi autorizado pelo relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin.
O áudio é questionado pela defesa do peemedebista, para quem houve fraudes e cortes. A Polícia Federal realiza uma perícia para avaliar se houve modificações na gravação.
Leia a nota na íntegra.
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O então vice-presidente Michel Temer utilizou aeronave particular no dia 12 de janeiro de 2011 para levar sua família de São Paulo a Comandatuba, deslocando-se em seguida a Brasília, onde manteve agenda normal no gabinete. A família retornou a São Paulo no dia 14, usando o mesmo meio de transporte. O vice-presidente não sabia a quem pertencia a aeronave e não fez pagamento pelo serviço.