O número de ônibus queimados em janeiro na capital paulista já corresponde a mais da metade dos casos ocorridos no ano passado na cidade, segundo dados da São Paulo Transportes (SPTrans). Apenas entre 1º de janeiro e 5 de fevereiro, foram 35 ônibus incendiados por diversas causas, contra 65 em 2013, o que corresponde a 54% no número de casos em todo o ano passado.
Segundo levantamento feito pelo G1, os incêndios ocorrem por diversas causas, desde morte de moradores (oito ao todo), enchentes (sete), proibição de bailes funk, falta d’água, reintegração de posse, prisões de moradores, abordagens policiais e manifestações de ambulantes.
Em 2013, a maioria das ocorrências estava ligada a mortes nos bairros, como a do adolescente Douglas Rodrigues, estudante de 17 anos que morreu após ser baleado por um policial militar em outubro perto da rua onde morava, na Zona Norte da capital paulista.
Com barricadas, os moradores da Vila Medeiros protestaram pedindo Justiça. A Polícia Militar reagiu com balas de borracha e bombas de efeito moral. Horas depois, ônibus e caminhões foram incendiados nas imediações da Marginal do Rio Tietê.
Em seguida, aparecem a queixa contra atropelamentos e danos causados por enchentes. Ao todo, 8 ônibus foram queimados por essas razões na cidade.
“As causas são tão diversas que é difícil explicar o que está acontecendo. Virou moda”, diz Guaracy Mingardi, analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança. “Não tem relacão com o sistema viário, mas as pessoas perceberam que [queimar ônibus] chama atenção. O problema é que isso deve agradar alguns, mas prejudica muitos, pois se você queimou um ônibus hoje, amanhã não vai ter na região. E o pessoal vai trabalhar como?”, diz.
Durante os protestos de junho contra ao aumento das tarifas de ônibus, que foram o estopim de manifestações que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas, não foram registrados ônibus queimados – a maioria dos coletivos foi depredada.
O mapa das ocorrências mostra que os casos se concentraram exatamente na periferia da cidade, região em que os moradores costumam depender mais do transporte público. Em 2013, 14 das 65 ocorrências aconteceram na Vila Curuçá, no extremo leste da cidade, e outros 8 no Grajaú, na Zona Sul. Neste ano, foram 4 no Jardim Ângela, também no sul, e outros 4 no Itaim Paulista, na Zona Leste.
Depredados
Além dos incêndios, neste ano, outros 66 coletivos foram depredados em diferentes distritos da cidade e da Região Metropolitana – só na Grande São Paulo, 26 coletivos intermunicipais foram atacados e destruídos em janeiro, segundo a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU). Em 2013, foram 1.242 casos envolvendo ônibus municipais.
Para Mingardi, para refrear a onda de incêndios, é preciso uma atuação maior não apenas da polícia, mas da população. “A pessoa que se sente prejudicada sabe quem queimou o ônibus, e uma coisa pouco utilizada é o disque-denúncia. Além disso, o estado tem que cair matando, não de forma indiscriminada, mas identificando quem cometeu o crime e mandando para a cadeia”, diz.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o secretário Fernando Grella determinou no dia 29 de janeiro o reforço do policiamento, “que também conta com o apoio da Rota e do 2º Batalhão de Choque”. Por meio de nota, a SSP também informou que 20 pessoas já foram presas por incendiar ou apedrejar ônibus.
Em entrevista ao G1 no final de janeiro, Grella afirmou que a sequência de ônibus queimados em virou estratégia de grupos para dar visibilidade a protestos com diferentes motivações. Ele disse também que apura se as ocorrências são provocadas pela ação de manifestantes ou se há ligação com grupos criminosos organizados.
Do G1
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