Em cumprimento ao acordo judicial celebrado perante o Juizado especial da Comarca de Paço do Lumiar, na Ação promovida pela senhora Núbia Feitosa Dutra, publicamos a primeira das quatro matérias do direito de resposta acordado.
1 – Dra Núbia, o que de fato aconteceu no dia 28 de julho de 2017?
Por volta das 17.30hs, me dirigia a um viveiro na estrada da Maioba para comprar plantas e flores para presentear os alunos da primeira escola em tempo integral de Paço do Lumiar, na comunidade Cotovelo, inaugurada na manhã deste dia. Ao passar pelo Sítio Grande, os assessores que estavam comigo me avisaram que uma senhora estava sendo agredida no interior de um veículo que se encontrava parado no acostamento de um condomínio. Fiz a manobra no carro, retornei ao local e observei uma jovem senhora que descia correndo de um carro, dando pontapés no carro e dirigindo-se a uma coluna de proteção do condomínio a procura de abrigo, sendo seguida por um homem em atitude agressiva. Me dirigi àquela senhora, pedindo que a mesma me acompanhasse até o carro para que eu a conduzisse até a sua residência ou a um local seguro.
2 – O que aconteceu depois?
A aquela senhora ficou um pouco indecisa, porém aceitou o meu convite e começou a se dirigir para o meu carro. O senhor que tentava agredi-la, passou então a dirigir sua fúria contra mim e meus dois assessores, agredindo-nos com socos e pontapés, (as fotos dos hematomas constam em laudos periciais) bem como sacando de uma arma. Supressa com atitude agressiva daquele senhor, corri e me escondi na lateral do carro do mesmo, sendo seguida por ele de arma em punho enquanto verbalizava a sua intenção de atirar em mim.
3 – Quanto tempo durou este episódio?
Eu, o fotógrafo e minha assessora que me acompanhavam passamos 28 minutos, sob a mira de uma arma de fogo cujo calibre vim a saber depois que se tratava uma pistola ponto 40 de propriedade da polícia Militar, O atirador consumiu todo o tempo de minha tortura rodando em torno do veículo buscando ângulo para me matar. O atirador, que depois soube ser um sargento da polícia militar, não atirou nos primeiros minutos apenas por falta de ângulo, por apresentar estado de embriaguez e em virtude da intervenção dos meus dois acompanhantes que lhe pediam para não atirar e também pela intervenção da senhora que com ele estava, que muitas vezes ficava na frente do mesmo, clamando a ele por minha vida, a esta mulher, serei eternamente grata.
4 – Quando começaram os tiros?
Dois ou três minutos após o início das agressões, o fotografo Leo ligou para o tenente Reformado da PM Gerson, que trabalhava com o Prefeito Domingos Dutra, pedindo socorro. Não sabemos por que motivos, somente 24 ou 25 minutos depois, chegou ao local o Sargento Ivanildo, da PM. O Sargento Ivanildo ao chegar, (DESARMADO, COMO MOSTRA O VÍDEO) perguntou o que estava ocorrendo. Pediu calma e se identificou como policial. Assim que o sargento e apresentou, o atirador que tentava me atingir se enfureceu, respondendo que também era militar e começou a atirar no profissional da mesma corporação, onde o sargento pulou em minha direção me arrastando para fora do alcance dos tiros .
5 – Então foi o Sargento Ferreira quem atirou primeiro?
Sem dúvida, este elemento surpresa, de atirar em alguém que só pedia calma não sai do meu pensamento, minha alma sangra porque o nível desta maldade foi e sempre será estarrecedor para mim. O episódio foi todo filmado por uma câmera do condomínio que comprova nitidamente quem portava arma e quem sacou primeiro, do risco que corri , conforme o link que segue. Ele atirou primeiro no Sargento Ivanildo, o qual se assustou e correu para o outro lado do carro, onde eu estava, no intuito de me proteger. O segundo tiro acertou e transfixou o meu ombro direito, o terceiro atingiu a minha face direita e o quarto também direcionado a minha face atingiu a minha mão, vez que após a minha face ser atingida eu levei aminha mão à face tentando estancar o sangue, assim, mesmo sem saber, desviei o tiro da face para a mão direita, hoje, estou aprendendo a escrever sem usar o dedo indicador e não tenho mais apoio para pequenos gestos como escrever, girar uma chave na porta, ou mesmo pegar um litro de agua da geladeira somente com uma mão. Mesmo após estes disparos, o atirador, tentando me atingir novamente se dirigiu para frente do veículo, sendo alvejado pelo sargento Ivanildo com um único tiro, usando o princípio da razoabilidade de plena defesa.
6 – E depois o que ocorreu?
Fui socorrida pelo fotografo e pelo Sargento Ivanildo e levada para o hospital São Domingos. Lá queriam me atender em local inadequado, de forma improvisada e sem aplicação de anestesia. Foi quando chegou o Prefeito Dutra e vendo o estado em que eu me encontrava me conduziu para o Hospital UDI, onde fui bem atendida, sendo submetida a cirurgias no ombro, na face e no dedo indicador. Fui submetida a uma cirurgia plástica no rosto, amenizando os danos, contudo, meu rosto está marcado para sempre, não mais marcado que a minha alma obviamente. Convém registrar, que após ser baleado, o atirador ainda deu vários tiros no meu carro, tentando acerta minha assessora que lá se escondera, os vidros do carro estilhaçaram e a mesma chegou ao hospital comigo com o rosto e corpo coberto pelos vidros e em estado de pânico.
7 – Porque a senhora decidiu retornar para socorrer aquela senhora se não a conhecia e não sabia o que estava ocorrendo?
Claro que sabia o que estava acontecendo, uma mulher estava sendo agredida por um homem, ponto. Porque? Eu não sei. Agora, eu sou advogada militante das lutas contra a violência à mulher, sempre fui, muito antes de casar com um homem público. Sou Psicóloga humanista, trabalho tentando fazer com que a pessoa humana viva em paz e feliz . Sempre defendi os animais, as criança, os adolescentes, idosos e as mulheres de qualquer tipo de violência. Apesar da lei Maria da Penha e das estruturas mínimas criadas pelo estado para proteger as mulheres, somos vítimas diárias de espancamentos , assassinatos e violência em geral, em público e em casa. Diante da cena que presenciamos, a única atitude de quem defende as mulheres contra violência e de quem tem família foi a que tomei: verificar o que estava ocorrendo e tirar aquela senhora daquele local, evitando que fosse assassinada;
8 – A senhora ficou com alguma sequela?
Claro. Quem é atingida por três tiros, apanha no meio da rua de um estranho com uma ponto 40 na mão e escapa da morte por um milagre fica para sempre com sequelas físicas e psicológicas. Além das marcas dos ferimentos no rosto e no ombro, o meu dedo indicador está semi imobilizado. Por outro lado, sofro do stress pós traumático, além do medo e das ameaças que sofro.
9 – A senhora vive ameaçada por quem?
O atirador, , após meses internado veio a óbito decorrentes de complicações de diabetes, pelo que me informaram. O mesmo tem muitos parentes em Paço e Ribamar, cuja vigança foi anunciada no mesmo dia do velório em alto e bom som. Vivo sob constante ameaça e tensão. Carros com placas falsas ou sem placas,e pessoas estranhas rondam meu local de trabalho e minha residência. Eu e minha família tivemos que mudar hábitos e locais de trabalho. Já formalizamos duas representações à Secretaria de Segurança do Estado, além dos contatos pessoais feitos pelo prefeito. Já registrei várias ocorrências na delegacia do Maiobão e até o momento nenhuma solução. Cabe à polícia investigar se estas pessoas e veículos são de parentes do atirador, ou se são de velados da corporação em que o mesmo servia ou de terceiros, apenas sei que minha vida corre risco e o Estado se mantém inerte.
10 – A senhora ainda tem algo a dizer?
Tenho tanto a dizer que uma reportagem não é suficiente. Primeiro lugar, ainda hoje questiono a demora no socorro que solicitamos 2 minutos após o início do episódio. Durante o episódio passou uma viatura da PM e não parou. Em segundo lugar lamento ter sido tão acusada pela mídia sobre a morte do atirador. Em terceiro lugar, lamento a campanha difamatória dirigida por bloqueiro que faz parte do governo do mesmo do Partido do Prefeito Dutra, que teve a maldade de editar a fita, manipulando trechos com o único objetivo de me colocar como culpada pelo episódio, banalizando a violência e estimulando agressões à minha pessoa. Por conta disto o mesmo responde processos criminal e cível.
Vivemos uma época de inversão de valores em que muitos, ao invés de intervir para evitar tragédias, preferem ligar os celulares para firmarem violências e espalharem nas mídias sociais. Outros censuram atitudes como a que tomei, repetindo preconceitos machistas tais como em briga de homem e mulher ninguém mete a colher. Expressões que reforçam o machismo, estimulam e banalizam violência contra as mulheres. Eu não meto só a colher, meti o meu corpo e a minha alma, como deve fazer todo ser humano que presencia a violência contra um ser vivente, seja ele quem for. Para todos eu digo com profundo respeito. Se a mulher que fui defender fosse a sua mãe, filha ou irmã, eu ainda seria chamada de louca e assassina?
PAZ E LUZ
Nota do Blog
Ficou acertado em juízo que a advogada iria registrar aqui a não divulgação de comentários e não o fez. Portanto, o amigo leitor fica sabendo que não adianta comentar nesta e nem nas próximas três postagens acordadas. A direção do blog informa ainda que não aceitará da próxima vez postagens que se assemelham a um jornal impresso para não prejudicar o formato desta página que obedece a critérios técnicos e estéticos.