Por Abdon Marinho

Defino como tragédia quando ser perde uma vida quando se poderia evitar. Ouvi algo semelhante de um médico, certa vez, e guardei comigo.

Acredito que essa tragédia é ainda maior quando certas pessoas, ignorando o sofrimento de outras, usam estes fatos para fazerem proselitismo político.

Por esses dias chamou minha a atenção os pronunciamentos de alguns deputados na Assembleia Legislativa, as manifestações de certas personalidades, os textos de certos jornalistas.

Exploraram a não mais poder o fato de familiares de uma criança ter se socorrido da justiça para garantir o tratamento da mesma em face de uma enfermidade grave.

Inicialmente, diante da gravidade da situação, os pais agiram de forma correta. Não havia razão para buscar (se não buscaram) o tratamento da criança através da rede pública ou do sistema único, se assim fizessem corriam o risco do socorro chegar tarde.

Os fatos que ouvimos aqui e ali comprovam o quanto a saúde do Maranhão está desorganizada. Já vinha assim desde antes – embora muitos digam que houve uma piorada, e não tenho razão alguma para duvidar que não –, pois nunca compreenderam que o sistema é único e, como tal, deveria possuir um só comando a ser exercido pelo Município de São Luís que é gestor pleno da rede, como já explicamos noutra oportunidade.

O município nunca teve a disposição de assumir a responsabilidade permitindo a coexistência de três sistemas de saúde dentro do estado, o municipal, o estadual e o federal (representados pelas unidades sob a gestão da Universidade: Materno Infantil e Presidente Dutra).

Assim, sem comando, tem sido comum os pacientes penarem para conseguir leito na rede do estado se é do município ou se é de qualquer dos dois na rede federal.

O drama vivido pela criança e seus familiares – e que tocou a todos nós – não é o primeiro. Assim como não é o primeiro caso de paciente que tem que recorrer à justiça para conseguir um atendimento.

Apesar disso, há uma diferença. No governo anterior, ainda que a justiça mandasse, os gestores não cumpriam as decisões. Essa é uma diferença significativa. Agora, pelo leio, a assessoria da secretaria, procuradoria foram até São Paulo prestar apoio; o secretário estadual manifestou-se dizendo que só deveriam transferir o infante quando isso não significar risco.

Outrora – lembro de ter escrito o caso de amigo que acometido de câncer e já estando o mesmo bastante avançado precisou de um equipamento (que no mercado não chegava a custar cinco mil reais), uma espécie de respirador, que lhe garantisse respirar – apesar das reiteradas decisões judiciais, este amigo, passou o resto dos seus dias sem que o Estado do Maranhão, através da Secretaria de Saúde lhe fornecesse o equipamento.

A família só foi ressarcida depois de sua morte através de outra decisão judicial que determinou o sequestro dos valores nas contas de Estado.

Os amigos que acompanharam o caso contaram que nas suas peregrinações pela SES chegaram a testemunhar diversos casos semelhantes, decisões judiciais sendo solenemente ignoradas, uma decisão político-administrativa dos gestores em prejuízo da saúde e da vida de dezenas, centenas, talvez milhares de cidadãos.

Noutra quadra, assistimos também o poder público fretar avião, custear tratamentos de aliados políticos em hospitais de São Paulo, fazendo o que se deveria fazer a todos e não apenas aos que rezavam na cartilha.

Assisto aos protestos destas pessoas e não consigo imaginar de onde tiram tanto cinismo. Ainda não se passaram seis meses que deixaram o poder, quando negavam o cumprimente de decisão judicial para garantir um mísero “balão de oxigênio” aos pacientes reclamarem de crueldade do governo, de insensibilidade.

Geriram o sistema ainda ontem, é até capaz da assessoria jurídica da SES que recorreu da decisão judicial, seja a mesma que fez isso inúmeras vezes por determinação do ex-gestor, talvez usando petições idênticas às usadas antes do começo deste ano, quando havia a determinação de recorrer de tudo e não acatar as decisões judiciais. Só lamento o fato de nenhum juiz ter tido a coragem de mandar prender os desobedientes.

Onde será que estavam todos estes que agora protestam até o ano passado? Será que não tinham conhecimento das reiteradas decisões judiciais sendo descumpridas pela SES? Será que não sabiam dos inúmeros sofrimentos causados aos pacientes e seus familiares?

Cada vida precisa ser preservada, cada vida é igual. Estranho é ver tantos protestos diante do sofrimento de uma criança e quase nenhum aos que pereceram no passado ou até mesmo com relação às quase duzentas crianças que morreram na maternidade em Caxias ou um gesto de solidariedade as outras vinte que ficaram cegas.

Talvez não tenham coragem de apontar para os responsáveis, talvez tenham medo de perder as benesses do poder. Qual a razão de toda essa indignação ser seletiva?

A impressão que fica é que a solidariedade é diretamente proporcional aos interesses envolvidos e não o sentimento de piedade cristã, de amor ao próximo.

Não faz muito tempo vi alguns protestando contra a lei que permitiu a soltura de um cidadão que teria provocado a morte de uma criança em acidente de trânsito. Entretanto, essa mesma indignação não foi vista quando dois filhinhos de papai, menores, fazendo “pega”, ceifaram a vida de duas donas de casa, trabalhadoras, domésticas, que saiam do trabalho. Ou tantos outros casos. Nada dizem e muitas das vezes fazem questão de ocultar.

Outro fato a chamar a atenção foi uma manifestação de ex-secretário de segurança, aquele mesmo que dizia pouco antes do calendário de 2014 virar a folhinha que ”a sensação de insegurança na região metropolitana era artificial”. Pois é, agora protesta contra a política de segurança do atual governo.

Não digo que esteja errado. Não está errado, a violência na região metropolitana e em todo o estado inspira muita preocupação, assim como já inspirava quando, o agora insatisfeito, era secretário da pasta.

Já cansei de dizer um número que sintetiza bem a situação: em 2002 tivemos poucos mais de 200 homicídios. Hoje, e nos últimos anos, esse é quase o número de um único mês.

O atual governo que começou bem neste quesito da segurança (até escrevi elogiando-o), demonstra um certo cansaço. Deu uma indevida trégua a bandidagem e ela está perdendo o respeito pelo governo. Cometeu-se o mesmo erro dos governos anteriores: ser tolerante e leniente com os bandidos, quando deveriam sufocá-los até que saíssem do estado.

Um erro que contraria o que foi prometido na campanha. Prometeram mão firme. Os bandidos acreditaram e refugaram um pouco, agora já duvidam disso é partem para desmoralizar o governo (não duvido que conte com apoio de outras forças). São assassinatos de policiais, fugas espetaculares, assaltos a ônibus, invasão de residências, homicídios. Por fim invadiram uma secretaria de estado e fizeram reféns.

O governo precisa agir com firmeza, não admitir que o estado paralelo tome o fôlego. Uma das promessas que fez o governador a uma eleitora, era que ela iria poder abrir a janela. As portas, janelas daquela eleitora continuam cerradas, trancadas a sete chaves e gradeadas.

O direito de crítica é de todos, entretanto, quem esteve no cargo e não apresentou nada de novo, não fez o dever de casa, não pode vir agora querer posar de bonzinho. Ademais, quem até ontem era vidraça pode querer virar estilingue do dia para noite

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