Por Abdon Marinho

Abdon Marinho é advogadoAbdon Marinho é advogado

Não é de hoje que ouço falar que o Brasil é uma potência em recursos hídricos. Junto com essa assertiva a minha professora primária acrescentava a necessidade e responsabilidade que tínhamos e zelar e preservar tal riqueza para que não viesse faltar no futuro. Tem quase quarenta anos, portanto que falamos sobre a necessidade de preservação dos nossos recurso hídricos. As gerações que me antecederam também já ouviam dizer isso.

Atualmente o Brasil e o mundo enfrenta uma severa crise hídrica. Falta água para a agricultura, para gerar energia nas usinas hidrelétricas, para as pessoas beberem e para fazer as coisas usuais da sua rotina.

Pois é, o futuro de escassez chegou e, como era de se esperar, a sociedade não está preparada para ela. Não vivemos, ainda, o cenário desértico retratado no filme Mad Max, mas o deserto na qual se tornou nossas reservas de água, nos represas, nossos rios, lança uma luz de como será o futuro.

As previsões otimistas apontam que havendo regularidade de chuvas, os reservatórios voltarão ao seu nível normal em 5 (cinco anos). Vejam que há um “se” enorme no meio da colocação. Só voltarão ao normal se as chuvas se mantiverem, ao menos, dentro da média. Isso não tem acontecido. Atualmente as reversas estão muito abaixo do normal, algumas não alcançando nem 10% (dez por cento) de sua capacidade. Estando o período chuvoso mais perto do fim que do começo e o consumo sempre crescente, é bem capaz de faltar água mais cedo que esperamos.

Um problema desta magnitude nunca vem só. O Brasil é país que depende maioritariamente de energia hidrelétrica, faltando água para mover suas turbinas, decerto que ante da água para o consumo teremos crise no abastecimento de energia. As usinas termoeléctricas estão no limite de sua capacidade e as fontes renováveis, como eólicas, solar, etc., ainda são insipientes. Em resumo: antes de faltar água para bebermos estaremos no escuro. O governo fala a verdade quando diz que veremos a água faltar. Não veremos porque estaremos no escuro.

Como tragédia pouca é bobagem, teremos que nos acostumar com a escassez e a carestia dos produtos agrícolas. Os pólos agrícolas, já experimentam uma diminuição no rítmico de sua produtividade devido a falta de água para a irrigação. Acredito que demorará algum tempo até modificarem todo o sistema de produção substituindo o sistema de aspersão por um sistema por gotejamento. E ainda assim, necessitarão de água. A agricultura, tanto aqui no Brasil como em qualquer outro lugar depende de água. A substituição dos sistemas apenas reduzirá o consumo do líquido já precioso.

É, parece muito com a paisagem empoeirada de Mad Max.

Em situações como a presente o mais cômodo é apontar o canhão da responsabilidade para os governantes. Não tenho dúvidas que têm uma imensa parcela de culpa por faltar água nas torneiras ou pelas já rotineiras faltas de luz. Entretanto, por uma questão de justiça devíamos, também, chamar para nós parte desta responsabilidade, conforme veremos a seguir.

Os noticiários dos últimos dias têm mostrado que a chuva ainda que pouca tem caído no lugar “errado”, ou seja, tem alagado as cidades cidades mas não tem servido para aumentar o volume de água dos reservatórios. Pois bem, uma das causas da redução das chuvas, sobretudo na região sudeste é o desmatamento da floresta amazônica. Nos últimos anos houve um acréscimo significativo, que dependendo de quem divulga a notícia, chega até a mais de setenta por cento. Apesar de toda tecnologia o governo brasileiro, por incompetência ou desleixo não tem conseguido diminuir, sem contar é claro com as dezenas de esquemas dentro dos órgãos encarregados de preservar o meio ambiente.

O especialistas dizem que essa destruição tem impedido o formação e o deslocamento dos chamados “rios aéreos” que transportam água e faz chover no sudeste brasileiro.

Nesta questão os governos têm sua parcela de responsabilidade. Assim como a tem por não agir com firmeza ou permitir construções que destruam rios, igarapés ou nascentes.

Aqui voltamos a história de está chovendo no lugar “errado”. As chuvas, ainda que estivessem caindo nos lugares “certos” não teriam como chegar aos grandes rios que alimentam as represas: suas veias, representadas por afluentes, igarapés, córregos, foram e estão sendo destruídas ao longo dos anos. Por outro lado, as cidades estão cada vez mais impermeabilizadas não tendo como a água penetrar no solo com rapidez, causando por consequência, as inundações que todos reclamam.

Em que pese a enorme participação dos governos no infortúnio da tragédia que se avizinha (se é que não já chegou), temos, também, uma grande parcela de responsabilidade. Aliás, temos uma parcela decisiva de responsabilidade, senão vejamos:

Eu, cidadão que reclamo tanto, quantas vezes não compro uma porta, janela móvel ou a madeira do meu telhado sem sabermos se é oriunda de procedência, se é fruto ou não de desmatamento ilegal na Amazônia? Os governos não fiscalizam, mas nós cidadãos também não fiscalizamos aqui na outra ponta.

Se reclamamos dos alagamentos não lembramos das inúmeras vezes que jogamos o lixo de qualquer jeito no ambiente. Não nos preocupamos, ao adquirir um imóvel, se o mesmo foi construído sobre a nascente de um igarapé ou se representou o aterramento de uma ou um conjunto de nascentes. Ou ainda se a empresa construtora tem um destino correto para o esgoto que será produzido que não seja o seu lançamento “in natura” nos rios e córregos. Isso para não falar das vezes que somos nós mesmos os promotores da destruição.

Uma das causas da falta d’ água no Brasil é a crescente destruição dos rios e mananciais. Os rios brasileiros são as maiores vítimas das erráticas políticas de governo e da sociedade predatória. Não temos uma política de recuperação e de preservação dos nossos rios quanto aos igarapés, lagos e nascentes, nem se fala.

Agora mesmo o governo corre para concluir as obras de transposição do Rio São Francisco que ajudará a minorar os efeitos da seca no agreste nordestino. A obra já consumiu mais de R$ 8 bilhões, mais que dobrou o seu valor originário, mas a ninguém ocorreu pensar numa recuperação do próprio rio que muitas partes apresentam os efeitos de anos destruição. A imprensa registrou não faz muito tempo que até a sua nascente principal secou.

Há cem anos, talvez menos, grande parte do transporte de pessoas e bens se dava através dos rios, as cidades eram construídas as suas margens. Com a mudança dos meios de transporte que passou a ser, maioritariamente, o rodoviário, os rios, até os maiores, passaram a ser destruídos de diversas formas: do lançamento de todo tipo de dejeto e esgoto nas proximidades das cidades, a exploração sem controle pela agricultura, a extração de areia, o assoreamento, o desmatamento de suas margens.

Um dos mais claros exemplos do que falo é o Estado do Maranhão, A grande maioria dos nossos rios, fonte de riqueza inigualável agonizam sem qualquer socorro das autoridades e com a indiferença da sociedade. Rios como o Pindaré, Mearim, Munim, Balsas e até mesmo o Itapicuru (responsável por grande parte do abastecimento de água da capital), “dão pé” em muitas partes. A política de recuperação praticamente não existe ou o que fazem é tão pouco que não representa quase nada diante dos ataques diários que sofrem.

Todos ou quase todos os rios maranhenses são vítimas da destruição causada pelo homem.

A tragédia dos rios maranhenses não se resume ao interior. A região metropolitana da capital, outrora rica em recursos hídricos, não possui mais um rio que não esteja poluído, aterrado, assoreado ou simplesmente que tenha deixado de existir. Os que ainda teimam em viver são atacados, sem trégua, por empresários inescrupulosos, por políticos corruptos e por uma sociedade inconscientemente omissa. A caso não estamos vendo os esgotos sendo despejados nos rios? Não estamos vendo, dia após dia, mudarem-se as leis de zoneamento para permitir a construção de enormes condomínios às margens dos rios, em áreas de florestas e até de preservação? Não vemos a leniência das autoridades com as ocupações irregulares, inclusive, nas margens do que foi represa que abastece parte da cidade?

A crise hídrica não é fruto apenas da escassez de chuvas (parte dela por ação do próprio homem), mas também pelas práticas criminosas que acontecem em todo o sistema. Precisamos entender que, preservar água vai além de reduzir o tempo no banho e em manter a torneira fechada durante a escovação dos dentes. E que, tão pouco, uma chuva hoje, seja garantia de abastecimento amanhã.

A esperança que temos é que a atual crise sirva, ao menos, para despertar a consciência das pessoas que moram em áreas que ainda possuem abundância de água para que os mesmos não cometam os os mesmos erros, que ainda hoje, são praticados nesta tragédia há muito anunciada.


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