Por Arimatéia Azevedo, Marcelo Gomes e Jade Araújo/ Portal A a Z
Por volta das 11h50 da manhã desta sexta-feira (24) os médicos confirmaram o óbito do empresário João Claudino Fernandes, de 89 anos. Ele se encontrava desde quinta-feira (23) em coma no HTI. Ele estava acometido de um câncer na próstata em estado muito avançado e também com problemas cardíacos. A família o acompanhou desde as primeiras horas e se encontrava com ele no hospital, até sua morte. A pedido da família, o velório será restrito por causa da pandemia da covid-19
“Seu João” como era mais conhecido, esteve no mês de fevereiro em um hospital de São Paulo e realizou uma revisão do tratamento ao câncer. Na unidade hospitalar, os médicos trocaram a válvula do seu coração e colocaram alguns stents.
O governo do Piauí e a prefeitura de Teresina decretam luto pela morte de João Claudino. A família divulgou um vídeo traçando a trajetória de sucesso do empresário. Assista abaixo.
Homenagens
O governador Wellington Dias afirmou que o empresário João Claudino marcou não apenas no Piauí, mas em todo o Brasil como um homem que começou a vida simples e cresceu com muita dedicação e trabalho. O Governo do Estado decretou luto oficial por três dias pelo falecimento do empresário.
Visitei o seu João ali quando ele havia chegado de tratamento em São Paulo. Aquela mesma pessoa, cheia de ideias, de planos, bem antenados com tudo no Brasil e querendo saber coisas sobre a situação no Piauí. Uma pessoa sempre muito sensível. Ele trazia na memória, a lembrança principalmente, dos seus pais, da sua esposa, a relação com a família e agora com os netos, uma pessoa com capacidade de compreensão muito grande da economia sem nunca ter entrado em uma universidade.
Seu João foi um empresário que marcou não apenas no Piauí, mas em todo o Brasil e no mundo como um homem que começou com uma vida simples e cresceu na vida com muita dedicação, muito trabalho e principalmente uma capacidade intuitiva extraordinária, fazendo uma relação entre as pessoas e segmentos como poucos no Brasil e no mundo.
Por isso eu quero aqui, como governador, neste momento de adeus além de dar o meu abraço a cada um dos filhos, familiares, netos, netas, todas as pessoas, os amigos, todas as pessoas queridas que Deus possa abençoa-los e muita força e saibam que é uma memória muito extraordinária. Guardaremos no coração, meu e do nosso povo, do senhor João Claudino, Seu João Claudino, marcou realmente em vida uma bela história no Piauí e no Brasil.
O ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Marcus Vinicius Coelho, lamentou a morte de João Claudino. “O Piauí perde um empreendedor é um homem de visão. Vindo da Paraíba, escolheu nossa terra e foi por ela escolhido e acolhido. Um dia triste para a história do Estado”, disse.
O colunista do Portal AZ, Arimatéia Azevedo publicou: “Era 11:50 minutos quando os médicos do HTI constataram que o coração de Seu João (Claudino) já não batia mais. Perde o Piauí, e porque não dizer, o Brasil, um dos homens mais valorosos. A história de João Claudino é muito rica, invejável”.
A deputada federal Rejane Dias também lamentou a morte do empresário. A parlamentar publicou em suas redes sociais: “Quero registrar aqui meus sentimentos pelo falecimento do empresário paraibano, João Claudino Fernandes, de 89 anos. Homem íntegro, cordial e trabalhador que escolheu a nossa terra acolhedora como lugar de oportunidades e assim o fez. Que Deus o abençoe e reconforte toda sua família nesse momento”.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Themistocles Filho disse que o Piauí perdeu um cidadão que incentivou a economia no estado. “Piauienses, hoje faleceu um grande empresário, um cidadão que no decorrer de sua vida gerou milhares de empregos no estado do Piauí e outros estados da federação. Um cidadão que colocou indústrias em nosso estado e incentivou o estado do Piauí. A sua família, os seus amigos e o Piauí, está de luto. Peço que Deus ilumine os seus amigos e filhos para continuar o seu trabalho”, comentou.
Uma história de sucesso e superação
Todas as informações abaixo com a história de João Claudino Fernandes e família foram extraídas do livro da jornalista Dina Magalhães*
João Claudino Fernandes nasceu em 21 de junho de 1930 em uma pequena cidade chamada Luís Gomes, na divisa da Paraíba com o Rio Grande do Norte. Ele é o sexto filho de um total de 17, nascidos de Francisca Fernandes e Joca Claudino. Ele viveu no município até os cinco anos de idade.
Em 1935 a família foi morar no interior da Paraíba a convite do avô materno Adelino da Silva. O avô e Joca Claudino abriram a lojinha de nome Santa Teresinha, no centro da cidade. A sociedade entre os dois foi formalizada tendo Adelino com 80% e Joca com 20%.
Armazém Paraíba foi um dos patrimônios construídos por João e o irmão, Valdecy Claudino, no Piauí (Foto: divulgação) O livro conta que o comércio da família ia bem, mas havia um desejo de criar algo novo. Foi então que surgiu a ideia de produzir uma confecção popular para o homem que trabalhava na roça e como a vida no campo exigia uma roupa mais resistente, houve a necessidade de se trabalhar com um tecido mais grosso. E a partir daí, o comércio passou a contar com uma pequena fábrica de confecção caseira.
Neste período, Joca desfez a sociedade com Adelino, não por briga, mas por sucesso da abertura de uma filial da mercearia na cidade de Antenor Navarro. Adelino foi morar no município e deixou Joca com a lojinha de Cajazeiras, na Paraíba. Isso aconteceu por volta de 1947. Em 1948, o comércio de roupas ia de vento em poupa e se vendia mercadorias até para o Maranhão. O primeiro emprego de João Claudino Fernandes foi como estagiária nos Correios e Telégrafos, mas foi por pouco tempo. Ele tinha vontade de aprender código Morse e logo deixou o emprego.
João Claudino viajava com a intenção de fazer os primeiros contratos do Armazém Paraíba (Foto: reprodução) Em 1949 aconteceram dois fatos importantes na vida de João Claudino, o Padre Bartolomeu foi transferido da cidade e ele deixou o Colégio Salesiano. Joca, preocupado com o futuro do filho decidiu ajudar a abrir um pequeno comércio, uma bodega que se chamou. A ‘Guanabara do Sertão’ em homenagem ao novo estado do Rio de Janeiro, por sugestão do padre Bartolomeu. Foi ali que ele começou a vender de tudo um pouco, de tecidos que vinham de Recife a lanches. Venderam inclusive, bombas caseiras de São João. Os fogos de arti!cios eram fabricados pelo amigo farmacêutico. Todo o tino comercial, João herdou do seu pai, Joca Claudino.
João Claudino e Valdecy Claudino construíram a primeira filial do Armazém Paraíba no Piauí (Foto: divulgação) Naquela época, o irmão Valdecy deixou o seminário para se dedicar ao comércio da família. Ele foi à força que Joca Claudino precisava para alavancar o pequeno negócio. Com Valdecy, a família perdeu um padre e ganhou um grande comerciante.
Em 1954, Joca decidiu que João Claudino já estava pronto para entrar na sociedade com ele na loja Nações Unidas. E o negócio foi prosperando. Tanto que em 1955, foi aberta a loja Casa das maquinas, em Cajazeiras, especializada em venda de máquina de costura. As vendas eram tantas que eles não davam conta do volume arrecadado com o negócio de máquinas. Foi feito um balanço três vezes para saber se o balanço era aquele mesmo.
“Aquilo encheu os nossos olhos e passamos a ver, na venda das máquinas, um investimento lucrativo. E inovamos! Fomos um dos primeiros no Brasil a prestar assistência técnica aos clientes – era um dos diferenciais que fazia o paraibano comprar em nossa loja. No Nordeste, esse serviço ainda não estava disponível nas lojas da região. A partir dessa fase vieram muitos clientes, então o meu pai e nós, os filhos, principalmente eu e meu trechos do livro de Dina Magalhães.
Em 1957 os negócios foram ampliados com a ideia de nomear representantes em algumas cidades da região Nordeste. João Claudino Fernandes viajava com a intenção de fazer os primeiros contratos para providenciar as representações.
O nascimento do Armazém Paraíba
Em 1958, a Paraíba enfrentou uma das piores secas da história e o povo sofreu muito, já que toda a população dependia da lavoura e agropecuária para sobreviver. A ideia era tentar novos negócios fora do estado. Então os irmãos pensaram em lugares como o Maranhão, onde já tinha o contato com duas pessoas que trabalhavam com a confecção.
Eles foram para Bacabal, onde crescia o movimento impulsionado pela produção de arroz. Quando foi para montar a loja, João pensou em homenagear a terra de sua família, mas precisava criar algo popular e fácil de lembrar. Foi aí que teve a ideia de chamar o empreendimento de Armazém Paraíba, apesar de não ter gostado inicialmente do nome. O marco que seria futuramente o Grupo Claudino estava fincado.
Depois disso, João alugou uma parte da usina Dois Irmãos na cidade maranhense para construir a primeira loja da família no estado. Em 19 de julho de 1958 foi inaugurado o Armazém Paraíba. Em pouco tempo o povo da cidade passou a ter preferência pelos produtos vendidos ali e o espaço foi sendo ampliado com novas instalações.
Para atrair aos clientes, João Claudino Fernandes se vestia de placas, uma na frente e outra atrás e saía pelas as ruas do município anunciando as promoções. Depois a propaganda foi feita em um caminhão com megafone. As vendas aumentaram e a marca foi crescendo para outras cidades no Maranhão. Os irmãos abriram uma loja em Santa Inês, em seguida veio a de Pedreiras e Codó. Cada inauguração era marcada por uma festa na cidade e shows com artistas populares.
A pedido da família, o velório será restrito por causa da pandemia da covid-19 (Foto: reprodução) Em 1966, mesmo com o crescimento das lojas do Armazém Paraíba, os irmãos entraram em outro investimento. João Claudino Fernandes e Valdecy abriram uma concessionária da Ford, em Bacabal, mas chateados com as exigências dos representantes da fábrica. Com isso eles acabaram o negócio dois anos depois. Os irmãos continuaram lutando para o crescimento das vendas no Maranhão e Joca Claudino permanecia na Paraíba. Foi desfeito a sociedade com Joca e as lojas do Maranhão ficaram sob o comando de Valdecy e João Claudino.
A chegada no Piauí
Com a ideia de expandir os negócios, os irmãos buscaram uma capital para abrir mais uma loja e a escolhida foi Teresina. Nessa época, já casado, João pensou em se mudar com a família para a nova cidade e se dedicar a loja que se tornaria matriz do Armazém Paraíba. Em 11 de fevereiro de 1968, Vicente, João Júnior e Cláudia, vieram morar na capital do Piauí.
“O nome João sempre me deu sorte e acreditei nisso ainda mais quando avistei uma fiação abandonada na Rua João Cabral. Aquele era o sinal que faltava para ter a certeza de que o local escolhido seria ali mesmo. Passamos a funcionar numa parte da fiação e o Armazém Paraíba foi muito bem recebido por este povo acolhedor que é o piauiense”, relatou João Claudino no livro de Dina Magalhães.
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