A Sociedade Recreativa Favela do Samba, atual campeã do carnaval maranhense (título dividido com a Flor do samba, no carnaval de 2023) será a última escola a desfilar no sábado, dia 24 de fevereiro, em São Luís, apresentando o enredo Presentes de Olorum: As Pérolas negras do Maranhão são carregadas de Axé…, de autoria do carnavalesco Pedro Padilha.
De acordo com o enredo desenvolvido por Pedro Padilha “São os Deuses que decidem, quais estrelas que hão de brilhar e as joias que irão reluzir… nada e ninguém, poderá impedir que se cumpra o destino… tormentas, chuvas, temporais, entraves, dores, sofrimentos, angustias, não serão capazes de apagar seus brilhos e suas luzes, seus encantos irão aflorar e suas marcas passarão de geração em geração”.
O enredo da Favela do samba está dividido em quatro quadros: “As obras de Olurum”; “O novo mundo”; “Resistência pela fé” e “Presentes de Olorum” que transformará a Favela do Samba num grande Quilombo de energias positivas, que ilumina as heranças ancestrais daquela agremiação e se torna resistência no meio cultural local como referencia de alegria, amor e dedicação, como são aqueles que amam e defendem o carnaval brasielrio e maranhense.
A Favela do Samba este ano, sob a direção de Alex Santos (Presidente) e Rogério Avelar (Vice-Presidente), está com uma Comissão de Carnaval formada por Eduardo Wiliam, Leonel Viegas, Remy Andrade e Euclides Moreira Neto; Mestre de Bateria, Júlio Cesar Diniz Machado; além de uma equipe grandiosa de auxiliares que está dedicada de corpo e alma para realizar um grande desfile neste próximo sábado, dia 24 de fevereiro.
Sinopse
Diz a Sinopse do enredo da Favela do Samba: Ouvir contar, numa ronda de pretos velhos, sob a luz da lua e das estrelas e ao som dos tambores… quando em África, o Berço da Civilização, morada do Deus Supremo Olorum (Olodumarê), Deus do Universo, decidiu dá fim a sua solidão, criou as essências dos Elementos Naturais, Terra, Água, Fogo e Ar, depois criou o primeiro Orixá: Obatalá (Oxalá), lhe encheu de sabedoria e Paz, criou também todo o exército de Orixás: Exu, Ogum, Oxóssi, Xangô, Oxum, Iemanjá, Iansã, Nanã, Omolu… e designou a Obatalá a incumbência de criar o Mundo.
Ele, diante de tamanha responsabilidade, partiu para a primeira missão, e criou plantas e animais e depois tornou físicos os elementos naturais, colocando galinhas de angola para ciscar e semear a terra, da salamandra fez clarear o fogo, de pombas brancas o revoar do ar e do caracol e da concha formou as águas. E que, sob a sobra da frondosa Árvore da Vida (Baobá) iria cumprir a missão mais importante da criação: o Aiê – o mundo físico dos seres vivos, … e do barro, entre as raízes da árvore sagrada, fez o Homem.
Soprou sobre a criatura lhe dando a vida e se encantou com a sua criação, em seguida o forjou no fogo, lhe deu brilho com o ar e o purificou com as águas, e o transformou em Joia rara. Convocou um Xirê, com todos Orixás e fizeram uma profecia: que essas Joias se espalhariam pelo mundo, levando conhecimento, ensinando a arte de amar, carregando suas crenças, suas artes e seus costumes e os cultuando em todos os lugares onde pudessem erguer suas vozes, entonar seus cânticos, e ouvir os sons dos seus tambores. E assim, grandes nações foram criadas (Congo, Nagô, Angola, Ijexá, Jeje e ketu), e livres espalharam essas crenças, a cultura Yoruba, o culto dos seus orixás e vodus, e ao longe se ouvia seus tambores e cantos…, até que a cobiça e ambição dominaram, e o flagelo se abateu sobre Daomé, Costa do Marfim, Nigéria, Guiné, Cabo verde, Senegal, Angola e tantos outros. Não sabendo o Criador, que algumas joias se transformariam em pedras, e perderiam essas virtudes junto com a cobiça e a ambição dos outros povos invasores, e que suas verdadeiras Joias, seriam arrancadas de suas terras, dos seus tronos, de suas famílias, seriam escravizadas, e colocadas em condições desumanas, acusadas de bruxarias ou apenas pelo poder da ambição e ganância.
Bateria em sua última semana de preparação para o desenvolvimento do tema que será cantado na passarela – Foto: Divulgação E mesmo sob o peso do flagelo, resistiram, por que foram feitos do mais nobre barro, e queimado na fogueira das virtudes, soprado pelo vento da resistência e banhados pela fé, e a tudo sofreram, mas não deixaram de cumprir suas missões, e além-mar, fizeram no Brasil sua nova casa, uma nova África, onde os antepassados se espalharam, lutaram contra o banzo, os açoites e as mazelas, mas construíram seus quilombos, e lutaram principalmente pela sua liberdade, mantendo viva a profecia para que foram criados… e construíram suas histórias (Agualtune, Ganga Zumba, Zumbi dos Palmares, Tereza de Benguela, Chico Rei, e tantos outros…). No Maranhão, Nã Agontimé que com sua realeza ancestral se fez rainha nessa terra de encantos e magia, Negro Cosme com sua bravura liderando seus bem ti vis que lutavam contra opressão… e tantos outros, que edificaram suas casas (templos) para manterem vivas suas crenças, ouvirem suas orações e fazer ecoar seus tambores, cultuando suas manifestações, oriundas do seu chão e hoje incorporadas aos nossos costumes e tradições e manifestações culturais, e algumas que mesmo não oriundas das terras dos seus ancestrais, foram moldadas e matizadas nas cores da sua raça e se mantém vivas e presentes pelo abraço das pérolas que fecundam este chão…
E são tantas joias, umas que ainda temos o prazer de ver seus brilhos e outras que nos iluminam ao virarem pontos de luz no firmamento… tanto as que partiram como as que estão nos dando o prazer de sua vida, encheram de orgulho nosso Maranhão. Gonçalves Dias nos ensinou que a vida é combate, Maria Firmina entoou um hino em louvor à abolição, e no beco da morada aos pés da ladeira, Catarina Mina construiu fortuna pela doçura de suas frutas que deu o sabor da sua liberdade… assim, tantas outras pérolas negras vêm deixando legados na cultura, nas religiões (principalmente nas de matrizes africanas), nas artes, na música, na política, na literatura, na dramaturgia, na medicina, na educação e sobretudo nas lutas sociais em defesas dos seus direitos e na busca do respeito e reconhecimento pelas suas obras e contribuições para toda a sociedade.
No Quilombo do Sacavém, no coração da Favela, onde o “CANTO AFRO” da “LUA SE LUANDA” traduz a grandiosa expressão de ESCRETE e tantas outras joias que brilharam e criaram uma grande nação, onde fizeram seus tambores ecoarem, e continuam brilhando…umas já partiram para o infinito, para junto de Olorum, para formar uma grande constelação, que nos ilumina e dá força para continuar na árdua jornada, de carregar o grande fardo com amor, acendendo a chama dessa agremiação… são fortes, destemidos, reluzentes, com a marca dos seus antepassados… são lindas joias, umas estrelas, outras pérolas reluzentes espelhadas nos inúmeros componentes que levam para a passarela todos esses anos essa nação chamada Favela… são Pérolas Negras… Pérolas da FAVELA DO SAMBA!! São Presentes de Olorum…
Euclides Moreira Neto, integrante da Comissão de Carnaval da Favela destacou que o desfile deste ano foi um grande desafio, quando o povo maranhense viu os dirigentes públicos priorizarem a realização de um carnaval tipo carbono com a contratação de grandes estrelas duvidosas do cenário cultural brasileiro, por cachês superfaturados, duvidosos e pagos adiantados, em detrimento do apoio às manifestações locais, por isso “o nosso desfile está sendo realizado fora de época, duas semanas depois da temporada propriamente dita.
Texto: Joel Jacinto
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