João Melo e Sousa Bentiví

Médico, jornalista, advogado, professor universitário, músico, escritor, poeta e Doutor em Ciências Empresariais (Universidade Fernando Pessoa – Porto/Portugal).

Nos últimos quinze dias estive fora do Maranhão. Para quem não sabe, fui defender a minha tese de doutorado em Ciências Empresariais, na Universidade Fernando Pessoa, em Porto/Portugal, onde fui aprovado com nota máxima. Mas não me desliguei das coisas do Maranhão e, ao ler a publicação do ex-governador e atual deputado federal, José Reinaldo, fiquei estupefato e tive que reler. Reli mais de uma vez. O título “ZÉ DOIDÃO”, observe-se, nada tem de pejorativo, inclusive gosto e admiro o deputado José Reinaldo, mas guarde relação com o inusitado, o bombástico  e com o inesperado .

Em resumo, o deputado José Reinaldo propõe algo absolutamente ímpar: um acordo entre o governador Flavio Dino e o ex-quase tudo, José Sarney, reconhecendo, sem nenhuma meia palavra, que o governador Flavio Dino precisa do senhor José  Sarney, para tirar o Maranhão do atoleiro

O artigo, veiculado alhures e algures, merece muitas análises, pelo o escrito e muito mais pelo o não escrito: os fatos mais marcantes estão nas entrelinhas. Escolherei um só parágrafo que creio relevante e, quem sabe, se necessário ou interessante, me aprofundarei, ou voltarei ao tema em outras oportunidades.

Assim diz José Reinaldo: “Aqui falo por mim. Não falo por mais ninguém. Portanto não se trata de qualquer tipo de barganha. Não se trata da oferta de cargos em troca de apoio. Não é, enfatizo, um pacto político. Não se trata, enfim, de troca de favores”.

Quando alguém discursa ou escreve algo, subtende-se que essa pessoa é autora e responsável por aquilo que diz ou aquilo que escreve. José Reinaldo certamente o é. Mas para que enfatizar que a afirmação é dele? A rigor, essa afirmação é pleonástica. Há muito ele escreve e nunca precisou dizer que era ele, mas dessa vez reafirma: sou eu mesmo. Seria para dizer ao mundo que o governador não tem nada a ver com esse samba? É interessante que, se essa indagação for verdadeira, ou seja, que o governador foi tão surpreendido quanto fui,  o governador foi tratado pelo termo “ninguém”. Ora, o “não falo por mais ninguém”, não pode ser o porteiro dompalácio.

Mas poderia ser outro o raciocínio: o governador é parceiro da ideia reinaldista, porém não quer aparecer. Assim,  o fiel deputado, assumindo todos os ônus, como bom “pai político” do governador, o estaria ajudando, dando-lhe somente os bônus do possível e desejável apoio do velho cacique. Nesse caso, a primeira consequência seria o soterramento do discurso dinista do passado nefasto e a canonização de José Sarney e sua trupe, com especial  honrarias a Roseana, Jorge e Ricardo Murad, entre tantos.

“Não se trata da oferta de cargos em troca de apoio”. Oração terrível e de uma sinceridade absoluta. Há trocas de cargos por apoios? Caso no novo governo estivesse extinta essa prática, por que o deputado José Reinaldo precisaria invocar que o tão sonhado acordo não passa por troca de cargos?  Caso essa troca fisiológica diabólica tenha sido fato do passado oligárquico, como se ouve todo dia na imprensa atrelada ao governo e nos seus porta-vozes, o deputado José Reinaldo nem precisaria mencionar. Pelo discurso do atual governo, tudo de ruim morreu e tudo de bom apareceu, quase em uma linguagem bíblica: eis que tudo se fez novo.

Mas a afirmação não é de um qualquer do povo. O afirmante foi secretário de Estado, deputado federal, diretor de órgãos federais, ex-ministro dos transportes, ex-governador do Maranhão, articulador das oposições, “pai-político” do governador Flavio Dino, quase de novo secretário de Estado e atual deputado federal. Desse modo, ao enfatizar que não se trata de fisiologismos, fica uma afirmação não dita, de que esse vírus oligárquico não teve o antiviral dinístico e permanece intacto e atuante, nas malhas do governo.

Parece que nós maranhenses necessitamos que o deputado José Reinaldo esclareça, claramente, se há ou não há fisiologismos no atual governo. Um deputado federal tem responsabilidades com seus aliados e, muito mais, com o povo a quem representa. Sem esclarecimento, estabelece-se um paradoxo, melhor, uma dúvida brutal. O governo Dino afirma que a oligarquia era o paraíso fisiológico da praga sarneisista, mas que foi extinto aos moldes de uma oração de exorcismo. Em contraponto, o deputado José Reinaldo prega um acordo que não seja troca de favores: um acordo sem fisiologismo. Uma coisa elimina a outra e a pergunta permanece: ainda há fisiologismo? E mais.

Como afirmam, aos moldes de uma ladainha, que essas práticas morreram, desde primeiro de janeiro, por que a recomendação? Como há a recomendação do deputado José Reinaldo, essa recomendação é para quem? Para o governador? Para o Marcio Jerry? Para o papa Francisco? Para Assembleia Legislativa? Repito, para quem?

Responda, José Reinaldo!

Finalmente, essa é de enlouquecer. Brada José Reinaldo: “Não é, enfatizo, um pacto político”. Ou o deputado José Reinaldo é muito sábio, ou eu sou deverasmente burro? Não há pacto sem reunião. Agora mesmo acompanhamos o caso da Grécia: reunião de dia, de tarde e de noite. O pacto do Maranhão é extremamente mais difícil que o dilema grego. Imaginemos a obrigatória reunião pactual. Antes, imaginemos o nome do pacto: OLIGODINO? SARNADINO? DINOSARNA? Os marqueteiros encontrarão o nome ideal.

Voltemos para a reunião pactual. O governador Flavio Dino, Marcio Jerry e outros secretários menores, as bancadas governistas, Holandinha debaixo do sovaco e a miudeza menos evidente. Do outro lado, José Sarney. Essa hipotética mesa estaria incompleta. Sarney teria que estar também acompanhado.

Farei um raciocínio futurista dessa hipotética comitiva sarneisista: Roseana, Jorge Murad, Gastão, Edinho, Lobão, Chiquinho Escórcio, Fernando Sarney, Joaquim Haickel, Sarney Filho, Sarney Neto, Sarney Bisneto, a bancada oposicionista da Assembleia Legislativa, sob a batuta da deputada Andrea Murad e, evidente, o Ricardo Murad, que, nesse instante, despir-se-ia das insígnias de adversário e receberia os aplausos como neoaliado. Alguém acha isso possível?

Agora, falando com clareza. Deputado José Reinaldo, torço por sua ideia, mas a mim parece uma reunião impossível. Seria mais ou menos como se, no passado, Bush tomasse chá com Bin Laden. Pior é a afirmação de “não se tratar de um fato político”. Deputado José Reinaldo, essa reunião deixaria, por exemplo, o acordo Sarney/Cafeteira na dimensão de troca de lanche em jardim de infância.

Deputado, todos os acordos citados na matéria e tantos outros ocorridos  na história da humanidade, sempre foram de natureza política. O acordo cearense, inclusive, guardaria notáveis diferenças com o Maranhão. Mesmo os acordos com viés de religiosidade não perdem a dimensão política, nem as nossas relações intrafamiliares perdem essa qualidade.

Defina-se, redefina-se, deputado José Reinaldo. Acordo com José Sarney, sabe o senhor, como filho político dele e ainda um admirador, tem que ser político. Tudo o mais será secundário.

A questão relevante é que, em política, o senhor, deputado José Reinaldo, o governador e tantos mais, ao sentarem na mesa com o José Sarney, estarão sempre em desvantagem: o cacique sabe mais que a plebe ignara!

Entretanto espera-se a palavra do governador. O outro José, o Sarney, deve estar às gargalhadas, pois sabe tudo e de tudo desse gramado.

Enquqnto isso, nós, desprovidos de poder e importância pactual, estaremos na plateia para entender esse tabuleiro, torcendo pelo Maranhão. O diabo é que esse Maranhão, passa governo e volta governo, continua dependendo de torcida.


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