Por Alex Ferreira Borralho
Na terça-feira (14.05) ganhou grande repercussão nas redes sociais as ameaças e os insultos direcionados, através de um grupo de WhatsApp, pelo estudante de medicina Jorge Carlos Pittas Reinbold contra uma aluna do mesmo curso que possui diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), com ápice de incitação ao suicídio. Quanta estupidez!
Os atos transloucados de referido estudante não pouparam nem a Polícia Civil e a Casa da Mulher Brasileira, que foram alvos de deboches, tendo o doidivanas postado a sua imagem em frente a CMB com a seguinte frase: “Éguas, depois de 15 longos minutos, fui liberado, vai demorar pra me recuperar dessa”.
Como não poderia deixar de ser, a mãe da estudante agredida agiu (Juliana Camarão), tendo o Poder Judiciário concedido medida protetiva proibindo Jorge Carlos de se aproximar da aluna, de seus familiares e de frequentar qualquer ambiente em que aquela esteja presente.
Esse tipo de atitude não pode ser tolerada e nem banalizada por nenhuma universidade, merecendo punição rígida e exemplar e tendo que ultrapassar a materialização, apenas, de mera nota, sob pena da instituição de ensino compactuar com práticas de discriminação e deflagradoras de crimes, contribuindo para a formação de pessoas sem ética e sem conciência sobre respeito e ignorando a necessidade do comprometimento com uma sociedade justa e igualitária.
Na verdade, o que se espera de um ambiente em que pessoas frequentam para obter aprendizado, é sempre a prática sadia, respeitosa e livres de preconceitos e violência, devendo ser um lugar plural de proteção de direito fundamentais, que abomina visão de mundo que atente contra a dignidade das pessoas, objetivando a prevalência do contido no artigo 3o, inciso IV, da Constituição Federal, que prevê como objetivo nacional a promoção do bem de todos sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
É inadmissível que um jovem que tem acesso ao conhecimento e que pretende cuidar da saúde e da vida de pessoas, esteja envolvido em atos grotescos que configuram, acima de tudo, menosprezo pela vida de um ser humano, disseminando a intolerância que já não pode ter espaço no meio coletivo e ignorando o necessário compromisso no combate as práticas de exclusão.
Vale destacar que esses atos devem servir de alerta aos professores e professoras, ditando a necessidade de incansável reflexão sobre as bases sociais dos educadores, com a busca de diálogos construtivos com os alunos, voltados não só para a formação técnica, mas, acima de tudo, visando a consciência garantidora dos valores de respeito, tolerância e solidariedade, com promoção de ambiente saudável e seguro para todos.
Jorge Carlos Pittas Reinbold lhe informo que o Código de Ética do Estudante de Medicina (CEEM), com 45 artigos, disciplina que o estudante deve respeitar os seus colegas independentemente da sua idade, sexo e convicções/ ideologias, devendo, ainda, ser solidário com aqueles e com os profissionais de saúde. Aliás, faça a leitura do parágrafo único do artigo 17 (O estudante deve reconhecer que o preconceito no ambiente universitário é fator causal para adoecimento e sofrimento), além do artigo 39 (É dever do estudante de medicina agir de forma solidária e respeitosa com as pessoas, a instituição e as normas vigentes, valorizando atitudes e medidas que beneficiem o crescimento coletivo), não esquecendo que um dos princípios fundamentais de referido código estabelece que “A escolha pela medicina exige compromissos humanísticos e humanitários, com promoção e manutenção do bem-estar físico, mental e social dos indivíduos e da coletividade.”
No futuro, Jorge, você lembrará que teve um momento da sua vida em que foi um tremendo idiota e se você conseguir se formar, será inevitável não ser lembrado como o médico que durante o período universitário, aparentava não ter consciência de suas responsabilidades, deveres e de limites junto à sociedade.
Depois de 15 longos minutos, Jorge, você vai demorar para se recuperar dessa. Éguas!
Por fim, vai estudar para aprender que mesmo com o Transtorno Borderline, a pessoa tem condições de viver plenamente, fazendo o que parece constituir uma dificuldade para você, que é manter relações pessoais saudáveis.
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