Por Cássio Euller – de Brasília
O renascer da fênix Sarney
Aconteceu de tudo nos bastidores da eleição do Senado iniciada pela manha e terminada no período da tarde de ontem, com a vitória de Jose Sarney para presidente do Senado da Republica. Ele obteve 49 votos contra os 32 votos dados para o senador petista Tião Viana. Se Sarney estava eleito um dia antes, quando ele reuniu cerca de 45 dos 81 senadores em sua residência, na QL 12 no Lago Sul de Brasília, os outro três votos que completaram os 49 vieram com a arrogante idéia de Artur Virgilio (PSBD-AM) ao orientar os seus aliados a entoar o discurso que taxava Sarney como “o velho caquético ” e colocando Tião Viana como “o novo vigoroso”.
Sarney que falou por ultimo da tribuna e desmontou com sabedoria o frágil e debochado argumento proferido como um insulto. A raposa, com 50 anos de vida publica, ressurgiu como fênix, pássaro sagrado do fogo na mitologia greco-romana, o qual foi atribuído a característica de incendiar e renascer. “Esse discurso é injusto. Desde quando comecei como político sempre me caracterizei como um inovador. Nunca meus olhos ficaram como lanternas voltados para traz. Envelheço, mas não envelhece em mim a vontade de trabalhar pelo Brasil”, discursou o experiente senador.
Há quem diga nos bastidores que isso serviu para convencer o arredio senador Pedro Simom (PMDB-RS) e fazer se auto-trair o tucano Tarso Jereissat (PSDB-CE). Este último jurou de pés juntos da tribuna do Senado em votar em Tião Viana. Se a vitória de Sarney foi azeda para um punhado de insolentes tucanos, essa mesma vitória desceu como um caju rançoso de goela abaixo da bancada jackssista na Câmara dos Deputados.
Dos dez parlamentares que seguem o governador do Maranhão, três lastimavam profundamente o resultado da pequena urna com a decisão de 81 senadores. Até às 14 horas, antes da apuração dos votos, “irmãos metralhas”, Domingos Dutra, Ribamar Alves e Julião Amim, achavam que podiam convencer senadores e ensiná-los em quem votar. Nem se deram conta que eleição no Senado da Republica não é a mesma coisa que eleições em “Gandahar” ( sinônimo de terra arrasada) como a turma do Jackson costuma apelidar o Maranhão quando está fora dele o comparando a cidade afegã.
Aos ouvidos do senador João Ribeiro (PRB- TO), quiseram saber se o seu voto era mesmo para Tião. Ficaram satisfeitos ao saber que “sim”. Ocorre que João Ribeiro estava na casa de Sarney no dia anterior a eleição e voltou ontem no final da noite após a eleição. Ao lado do presidente eleito o senador tocantinense comemorou e bebemorou todas.
O novato Jerfesson Praia (PDT-AM), sucessor do senador finado Jerfesson Perez, nem deu bolas para o deputado Ribamar Alves ao ensaiar o discurso de que votar no Sarney era mesmo que votar no atraso. “Essa guerrinha do Maranhão a mim não interessa”, teria dito o senador do Amazonas.
O fato é que a vitória de Jose Sarney no comando do Senado da Republica suscitou as mais diversas leituras pela romaria de convidados e não convidados, que ocupou literalmente os mais de três mil metros quadrados da mansão dos Sarney na Península dos Ministros, área mais requintada do Lago Sul.
Espalhados pela grande sala com sorrisos largos no canto da boca e tapinhas nas costas, peemedebistas graúdos como Renan Calheiros, Romero Jucar e democrata como Demóstenes Torres e Agripino Maia, viam muito mais em Sarney do que em Michel Temer, eleito na Câmara, como o grande condutor da disputa pela Presidência da República, em 2010.
Já espalhados pelos jardins e na beira da piscina a leitura de deputados maranhenses como Sétimo Waquim, Pedro Fernandes e Gastão Vieira era de que a vitória de Sarney significava a retomada do poder político no Maranhão. Essa lógica estava transparente nos olhos de Roseana, que de sorriso estampado, confessava aqui, acolá, nas rodas de correligionários que amanhecera o dia de ontem preocupada e nervosa com a candidatura do pai, que agora estava aliviada.
“Agora vou me concentrar no julgamento de Jackson Lago”, respondeu ao ser questionada numa dessas rodas sobre o próximo passo. A torcida é grande para ver Jackson sucumbindo no cadafalso da justiça eleitoral, acusado de comprar uma montoeira de votos que lhe deu a vitória sob Roseana em 2006. O julgamento suspenso no final do ano passado pode ocorrer nestas duas próximas semanas.
Jackson já fez o que pode para dizer a todos que isso é um golpe da oligarquia. Disse isso numa roda de sem-terras no Rio Grande do Sul e mandou dizer o mesmo no Fórum Social na semana passada em Belém do Pará. O governador só não consegue dizer o mesmo dentro do Tribunal Superior Eleitoral que guarda o iter criminis da chamada Frente de Libertação.
O ex-deputado Mauro Fecury, suplente de Roseana se diz estar preparado para assumir o cargo de senador caso isso ocorra. A vaga comprada por ele custou alguns milhões em 2002 , mas vai valer o que pagou se conseguir assumir o mandato no lugar de Roseana que vai até janeiro de 2011.
Na leitura de Remir Ribeiro (PMDB), Roseana deixa o Senado e toma posse no governo do Maranhão. Em seguida ela pede licença do cargo e assume João Alberto. Diante da leitura de Remir faço também a minha. A operação carcará pega mata e come será desencadeada, promovendo uma limpeza de área da maquina governamental. Só aí que Roseana reassumir ao cargo estará pronta para a reeleição. Tá no rumo, ou não tá?
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