Em entrevista exclusiva concedida ao Jornal A Tarde, o ex-governador José Reinaldo Tavares é firme na convicção de que o grupo Sarney estaria planejando voltar ao comando do Estado através da Assembléia Legislativa, ajudando a eleger o próximo presidente que tenha laços com ele para desestabilizar o governo Jackson Lago. “Eles têm um meio de comunicação muito forte e podem criar escândalos de grandes proporções e com isso aprovarem uma licença para defesa do governador”, acredita. Tavares critica a forma precipitada como vem sendo colocada a sucessão do deputado João Evangelista e condena os candidatos que estão fazendo acordos com a bancada ligada ao senador Sarney.
Para o ex-governador, se a escolha do próximo presidente recaísse sobre seu sobrinho, deputado Marcelo Tavares, “daria tranqüilidade ao governador”. Sobre a sucessão municipal em São Luís, José Reinaldo admite ser candidato a prefeito, desde que tenha o apoio dos partidos da Frente, mas destaca que seu projeto mesmo é ser senador da República. Abaixo a entrevista na íntegra.
A Tarde – Governador, o senhor tem manifestado, através de artigos que o senhor escreve todas as terças, no Jornal Pequeno, sua preocupação com o ressurgimento da oligarquia Sarney pela via da Assembléia Legislativa. Que motivo lhe leva a ter esse temor?
José Reinaldo – Eu conheço profundamente o Sarney. Ele sabe que não vencerá, jamais, uma eleição majoritária aqui no Maranhão. O desgaste que ele tem hoje; se você faz uma pesquisa, você olha imediatamente que o assunto principal, para o povo do Maranhão, é vê-los longe. Ele sabe que não vence mais. A única forma que ele tem é um golpe com aparência legal. E isso ele só poderá fazer se tiver uma instituição sobre o seu poder. Então, ele trabalha em duas frentes: uma, um processo totalmente viciado, feito com as mesmas pessoas que a Veja denunciou, numa operação muito semelhante a do Maranhão, em Goiás. Montando um processo para tentar desestabilizar o governador. A outra é através de um golpe, como eles sempre tentaram fazer, até que eu tive o apoio da AL. Eles têm um meio de comunicação muito forte. Eles podem criar um escândalo de grandes proporções e com isso aprovarem na Assembléia Legislativa uma licença para defesa do governador.
A Tarde – O que seria um impeachment, mais na frente?
José Reinaldo – Com certeza. Depois de o governador sair de licença, ele não volta mais. Sarney sabe disso. E ele vai tentar jogar todas as fichas. Agora, eu não acredito que ele vai conseguir, pois nós estaremos vigilantes, mas ele vai tentar.
A Tarde – O Governo do Estado tem hoje, na AL, 28 dos 42 deputados, o que representa uma maioria folgada. Essa articulação, então, envolveria gente da própria base aliada do governo?
José Reinaldo – Eu não sei. O que estou falando é por que eu conheço o Sarney. Eu sei que ele vai fazer isso. E sei também que eles sabem seduzir, de forma que, se você conversa com muita gente que está aí desgostoso, é porque foram seduzidos por promessas mirabolantes. Porque essa proximidade, esse poder todo com o governo Lula, dar certa credibilidade para quem não conhece profundamente a maneira como ele (Sarney) atua; de que ele poderá indicar a pessoa para cargos, para resolver problemas e tudo mais. Eu sei que ele vai tentar. Se já não está tentando, mas é evidente que vai tentar, pois não tem outra forma e o Sarney é movido pelo poder. Você está vendo agora mesmo a ameaça que ele está fazendo de sair de licença, porque ele não está sendo atendido numa pretensão de colocar mais uma pessoa como que ele sempre colocou, do sistema elétrico brasileiro. Ele vai tentar seduzir alguém aqui, e essas pessoas têm que saber que cair no canto da sereia do Sarney é ir exatamente contra a opinião pública do Maranhão. A pessoa pode se queimar politicamente pra sempre, aqui no Maranhão, se cair no canto da sereia do Sarney.
A Tarde – No seu artigo, o senhor é bem explicito, quando fala nesta questão da Assembléia Legislativa, no seu temor, que Sarney volte ao comando através do Legislativo. Hoje um dos fortes candidatos à presidência da AL é o líder do governo, que por sinal fez campanha com a senhora Roseana Sarney. É daí que surge sua desconfiança?
José Reinaldo – Não. Não é nada pessoal. É porque não tem cabimento uma discussão deste assunto, neste momento. A eleição é só em fevereiro de 2009. O presidente está aí. Um presidente valoroso, leal, amigo de todos. Isso é um desrespeito à figura do João Evangelista. Isso está fora do contexto, está fora da hora. Eu acho que a ambição de todo mundo é legítima, não se pode é fazer acordo com o Sarney, e eu não estou acusando ninguém disso. O Sarney vai tentar seduzir alguém, e quem cair nisso está liquidado.
A Tarde – Alguns deputados da AL, e inclusive alguns setores da imprensa, têm colocado que o senhor estaria tentando influenciar o governador na escolha do seu sobrinho, deputado Marcelo Tavares à presidência daquela Casa. Isso tem fundamento?
José Reinaldo – O Marcelo Tavares é um grande deputado, de confiança. Seria uma tranqüilidade para o governador, mas isso é problema do governador. Ele é quem deve escolher o candidato dele. Eu só acho que ele tem que colocar alguém com esse perfil. Se for Marcelo ou se for outro, pra mim é indiferente, embora ele seja meu sobrinho. Eu não misturo essas coisas, mas não deixo de reconhecer nele (Marcelo Tavares) um grande candidato. De qualquer forma, é cedo demais para se discutir isso. O João Evangelista está aí. Um grande líder político do nosso lado. Uma pessoa que merece todo nosso respeito. É amigo do governador, é meu amigo, já mostrou lealdade também por diversas vezes, de forma que isso não tem cabimento. Quem deve decidi isso é a Assembléia, junto ao governador, não sou eu, não sou.
A Tarde – Há uma articulação, patrocinada pelo deputado federal Ribamar Alves, que é o presidente do seu partido, o PSB, envolvendo nomes expoentes do cenário nacional para trabalhar no convencimento do governador e do prefeito Tadeu Palácio, para que o seu nome seja lançamento a prefeito de São Luís pela Frente de Libertação. O senhor Aceitaria esse convite?
José Reinaldo – A minha experiência é baseada na realidade que eu vivi, e essa realidade é que houve um trabalho imenso para fazer a Frente de Libertação do Maranhão, porque os políticos aqui eles brigavam um contra os outros, tendo rivalidades pessoais enormes, que eram colocados em qualquer tentativa de união. Nós conseguimos unir esse grupo, e isso nos levou à vitória, mostrando à população, que sempre ficou atemorizada pelo poder do Sarney, principalmente a parte política, que a união estava feita e aquilo causou impacto na opinião pública, dando-nos credibilidade. Não serei eu, portanto, que iria partir para uma candidatura de prefeito, independente na Frente. Eu já disse isso, inclusive em artigo, que só serei candidato se for da Frente, mesmo porque esse não é o meu projeto.
A Tarde – O seu projeto é ser Senador.
José Reinaldo – Sim. O meu projeto é o Senado. Nós temos condições de fazer dois senadores. O local onde o Maranhão tem carência de apoio político é o Senado. Hoje nós não temos nenhum senador, pois os projetos do Maranhão são todos engavetados. O Maranhão é tratado como um estado que não existe, e dominado pelo Sarney, que se apresenta como dono de três senadores do Maranhão e três do Amapá. Nós temos que acabar com isso, de forma que esse é nosso projeto. Um projeto coerente para o futuro do Maranhão. Agora, se houver a Frente, se o Tadeu e o Jackson tiverem interesse, e se todos os demais políticos de unirem, em torno de um nome, e se, por um acaso, esse nome for o meu, eu aceitaria. Porque, desta forma, seria um chamamento da classe política. Eu não tenho esse projeto pessoal, eu tenho é uma responsabilidade com o futuro do Estado.
A Tarde – Governador, o senhor ainda se acha perseguido pela Família Sarney?
José Reinaldo – Se eu me acho?! – Basta olhar o jornal deles. Eles não cessam nunca. O Sarney tem um ódio mortal, porque eu tive a coragem de enfrentá-lo. Até então, ele nunca havia perdido no Maranhão. E com isso toda a classe política era amedrontada; os empresários eram amedrontados. Quando, como governador, eu mudei a agenda de investimento do Estado, e apostei no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), isso o contrariou muito, e aí veio o rompimento. É claro que o rompimento não foi fácil. Eu sei do sacrifício que eu passei. Eu sei o que é governar, durante quatro anos, debaixo de críticas, mas não críticas normais, de governo, e sim de insultos, de calúnias, de difamações, pra chegar a uma destruição pessoal minha e da minha família. Eu não tenho dúvidas do sentimento do Sarney para comigo, e nem estou preocupado com isso. O Maranhão é maior que qualquer tentativa de intimidação, e a mim isso não cola.
A Tarde – Durante esses cincos anos, que o senhor governou o Maranhão, o que não foi possível ser feito e o senhor gostaria de fazê-lo?
José Reinaldo – O principal nós fizemos, que foi mudar a agenda de investimento do Estado, dando credibilidade a uma outra vertente de crescimento para o Maranhão, privilegiando as camadas menos favorecidas. O resultado está aí, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística) todo dia publica os índices do Maranhão crescendo, mesmo debaixo do bombardeio, sem nenhum apoio do presidente Lula, porque o Sarney é o maior empecilho ao desenvolvimento do Maranhão, pois não deixa o Presidente fazer nada aqui. O principal nós fizemos, agora tem que ter continuidade. O Maranhão sendo administrado com seriedade, resolvendo os problemas de educação e de pobreza, vai atrair um grande número de empresários pra cá, pois temos condições excepcionais para isso.
A Tarde – Pra encerrar, qual a avaliação que o senhor faz do primeiro ano de governo Jackson Lago?
José Reinaldo – A meu ver o governador Jackson Lago está indo muito bem. Ele teve alguns percalços, como o equívoco no tratamento com os professores, que deixou seqüelas no governo, mas que hoje foi superado muito bem, pois o governador tem um passado de vitórias na educação. Isso aconteceu no primeiro ano, porque há um ajustamento de governo, mas hoje ele está conseguindo colocar um Maranhão numa agenda muito boa. Eu tenho certeza que o governador vai fazer um avanço sob meu governo, que já foi neste sentido. Eu acredito muito no governo Jackson.
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