Abdon Marinho é advogado

CRESCEMOS com uma ideia: o Brasil é o país do futuro. Só que o tempo passou, o futuro chegou e o Brasil, ao que parece, não avançou muito. Em alguns setores, podemos dizer sem medo de errar, o país andou para trás.

A impressão que tenho ao examinar o que aconteceu é que o Brasil viveu a experiência de certos frutos: ficou bonito, vistoso, mas apodreceu sem que ficasse maduro. Secou no pé.

Esta impressão é corroborada por diversos fatos.

Não faz muito, ao assistir um debate numa rede de televisão sobre o que aguarda o país para os próximos anos, chegou-se a uma conclusão, compartilhada por mim, que assistia, e aos debatedores: o Brasil não tem um projeto de futuro. Pelo menos não tem um possamos considerar como tal. Pessimismo?! Talvez. Mas é o que se afigura.

A classe política do país – que teria a responsabilidade de apontar um rumo –, não tem nada a oferecer. Não conseguem reunir-se, em nome do país, em torno de uma agenda mínima. Na verdade, os nossos políticos só têm dois pensamentos: as próximas eleições e como ficar rico fazendo política. A estes dois pensamentos somou-se um terceiro, como salvar o próprio pescoço diante das investidas da Polícia Federal, do Ministério Público e de de alguns setores do Judiciário.

A cada fato revelado pela Operação Lava Jato, descobre-se, um pouco mais, como fortunas foram – e são – feitas tendo matriz recursos públicos desviados, seja de empresas, sejam de bancos oficiais, sejam de fundos de pensão dos servidores públicos, ou seja, recursos do povo brasileiro, que deveriam ser investidos, na educação das crianças e jovens, na saúde da população, no saneamento básico uma vez que o país ainda possui indicadores africanos, ou mesmo na infra-estrutura de rodovias, hidrovias, ferrovias ou portuárias, simplesmente são desviados.

Vivemos em um país em que dinheiro público serviu e serve para irrigar contas de políticos, transformá-los em milionários da noite para o dia. Pessoas que nada tinham antes de entrar na política, não mais que de repente, aparecem como prósperos empresários, fazendeiros, etc.

Como sabemos os políticos brasileiros – agentes públicos – são os melhores renumerados do mundo. Em que pese esse fausto e, ainda, com todas as mordomias proporcionadas pelos cargos, não teriam como construir as fortunas que constroem.

A explicação é apenas uma: corrupção desenfreada.

Neste quesito possuem “expertise” e, sabemos agora, criaram até uma nova Unidade de Medida: a mochila, capaz de armazenar 500 mil dólares ou euros, principalmente esta última moeda, segundo os nossos políticos, mais difícil de ser rastreada.

Enquanto isso, diante de uma safra recorde – graças a um inverno generoso –, não conseguimos fazê-la chegar ao destino, no prazo e sem perdas significativas, porque a infraestrutura de transporte inexiste, ou são, também, novos biombos de corrupção.

Como podemos acreditar no futuro do país se no passado e no presente não há quaisquer medidas tendentes a implementá-lo? Quem liga para o país, para os estados ou municípios? Bem poucos, a exceção da exceção. No geral, estão, cada um, preocupados em se darem bem, em tirarem todas as vantagens dos cargos e dos espaços de poder que possuem, sejam estas lícitas ou ilícitas, principalmente esta última.

Neste momento, em que os seus crimes se tornaram nossas companhias diárias, no acordar, no café da manhã, no almoço, no jantar e mesmo na hora de dormir, as ideias surgidas nos palácios são apenas no sentido de se preservarem e de manterem ainda mais intocáveis seus nichos de poder e de corrupção.

A porta de entrada da corrupção na política brasileira é o sistema político, a dominação dos partidos por autenticas máfias, que criam partidos (salvo as exceções) com o único propósito de enricarem com eles, negociando as legendas, vendendo seus espaços “gratuitos” no rádio e na televisão e/ou, mesmo, “vendendo” a legenda a quem quer se

candidatar e ainda “vendendo” a legenda aos adversários de seus candidatos. Uma espécie de crime perfeito: você ganha a eleição impedindo que seu adversário dispute.

Não se escandalizem, na eleição passada, municipal, foi o que mais se viu. Não se escandalize dois, na última eleição geral, de 2014, as delações atestam, os partidos, inclusive os tidos por sérios, receberam propina, caixa dois, dinheiro sujo, ou o que o valha, para apoiar determinados candidatos. Dinheiro alto, na casa dos milhões.

Com tudo isso, estranhamente, ninguém fala, em cassar tais legendas, em punir seus dirigentes e/ou candidatos eleitos ou não, que receberam o dinheiro sujo, muito pelo contrário, os “sábios” de Brasilia, inclusive alguns setores da intelectualidade brasileira (eu morro e não descubro que tipo de erva esse povo usa), saíram com a ideia genial de aprovarem uma lei para dar a estes partidos, estes mesmos, que fazem todo tipo de negócio com as legendas e com o dinheiro público, o poder de mandar a ainda mais. Passar a eles o poder que hoje tem maior participação do povo: o de decidirem quem serão seus representantes nos parlamentos.

Para isso, usam uma ideia que, segundo dizem, é aplicada com êxito em quase todas as democracias do mundo civilizado: a tal da lista fechada, preordenada. O cidadão vai votar no partido conforme a lista previamente disponibilizada pelo partido. Você quer votar em fulano que está lá no fim da fila e ao invés disso, o seu voto elege o que o partido colocou no começo da fila. Genial.

Não duvido que isso funcione noutros países. Mas funcionará com sucesso no Brasil, diante dos níveis de corrupção que vemos nas máquinas partidárias, onde os partidos são negócios de famílias, onde as legendas são negociadas a cada esquina?

Deduzo tratar-se de mais um engodo. Um desvio de atenção e uma tentativa de manter os mesmos corruptos de sempre encastelados no poder.

Alguém tem dúvidas como serão formadas as listas? Será que as legendas vão deixar de fora seus figurões, ainda que enrolados até o fios de cabelos na lama da corrupção? Ou os seus familiares? Quando muito, para enganar os incautos, colocarão alguém famoso, um artista, na lista para puxar os votos e ajudarem a manter o “status quo” dos corruptos. Será que não intuem que nos municípios, com a possibilidade dos partidos, praticamente, indicarem quem serão os seus representantes, isso vai apenas incentivar ainda mais o valioso negócio de venda de legendas ou as velhas oligarquias familiares?

Infelizmente, ideias boas, sucesso no mundo inteiro e que, não duvido, até serviriam para baratear o custo das campanhas, no Brasil terá o efeito justamente inverso. Os candidatos, mesmo os traficantes, as máfias, o crime organizado, vão comprar as legendas partidárias, numa primeira vertente da corrupção e depois, se inserirem no poder.

Os ideólogos do Brasil ou agem de má-fé ou não conhecem a realidade do país. Não sabem que os partidos são cartoriais, que existem dentro de uma pasta e são constituídos, pelo pai, mãe, primos ou empregados, que os brasileiros comuns, se não participam da vida política do país, muito menos têm quaisquer inserção dentro das agremiações. Se a política já virou uma espécie de “Programa Primeiro Emprego” para muitos que não deram “para nada”, experimentem fazer este novo arranjo.

O Brasil precisa atrair os brasileiros para o centro de suas decisões, acredito que a forma mais certa disso ocorrer é fazendo com que escolham seus representante de forma mais próxima possível. Uma forma disso ocorrer é com a divisão do país, estados, municípios em distritos e colocar os partidos, através dos seus candidatos, para buscar o apoio da população. Seguido a isso com a possibilidade de recall.

Voltaremos a esse debate noutra oportunidade.

Outra porta de entrada da corrupção no país atende pelo nome de emenda parlamentar. O parlamentar tem com missão legislar e fiscalizar. A emenda parlamentar é uma forma de executar e, segundo a voz corrente, estas emendas são negociadas país a fora sem qualquer pudor ou controle. O parlamentar destina uma emenda e cobra do destinatário,

gestor ou empresário, um percentual da mesma – com as ressalvas de sempre. Como resultado temos obras cada vez mais frágeis e que passam o resto da vida a necessitar de reparos.

Por incrível que pareça, todos parecem fingir desconhecer que isso ocorre e, pelo contrário, tratam de reforçar o papel de tais práticas, fazendo de tais emendas “impositivas”.

Vez por outra me pergunto, como podemos continuar acreditando num país em que o errado é o certo, em que a desonestidade é premiada e em que as instituições, que deveriam zelar pela coisa pública, tornaram-se verdadeiros antros de malfeitores?

Vejo, não sem pesar, milhares de brasileiros cansados, se mudando para outros países. Desistiram. Perderam as esperanças.


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