Natalino Salgado Filho

A despeito de grandes avanços ocorridos no contexto da educação, o acesso à Universidade, no Brasil, ainda é um dos grandes desafios a serem enfrentados, através de políticas sérias de inclusão, combate à evasão escolar e, fundamentalmente, à falta de substancial melhora da qualidade do ensino, cujas estratégias são bem conhecidas por todos os que militam na seara educacional. Ademais, temos muitíssimos modelos bem sucedidos em países similares ao Brasil que podemos adaptar a nossa realidade.

Reportagem publicada nesta semana, pela versão brasileira do jornal espanhol El País, a partir de dados Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), revelou que o Brasil, na lista de ranking mundial de investimento em educação, só fica à frente do México, numa lista de 36 países.

E, se há um ponto fulcral a ser enfrentando, constata a reportagem, esse passa necessariamente pela reforma do Ensino Médio, cujas matrículas na rede pública diminuem ano a ano, com assustadores 60% de evasão, já constatados. Este número se refere à finalização do ensino médio. Dito de outro modo: de dez alunos que iniciam esta etapa de formação, apenas 4 a finalizam.

A questão, no entanto, afirmam alguns especialistas, começa na base de tudo: o ensino fundamental. Isto porque o aluno chega ao ensino médio com enormes déficits de conhecimento nas matérias básicas. Logo, o desempenho destes alunos no principal teste mundial, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), revela uma queda constante no ranking, ano a ano, nos itens avaliados: ciências, leitura e matemática. Em 2016, dos setenta países avaliados, o Brasil ficou em 63ª lugar, em ciências, 59ª, em leitura e na 66ª colocação, em matemática.

Nesta semana, o noticiário nacional destacou, com ênfase, algo eu diria assustador. Pesquisa do Banco Mundial, apresentada em relatório sobre educação, mostrou que os alunos brasileiros levarão – a não se fazer nada ou pouco, cosmeticamente como se tem feito até aqui – 75 anos para se igualarem em conhecimentos de matemática com os países desenvolvidos e inacreditáveis 260 anos para se igualar em leitura.

A evasão escolar no ensino médio, por diversas razões, inclusive a entrada no mercado de trabalho subqualificado, chegou a 12,7%, especialmente no primeiro ano. Esta é uma média nacional. As conhecidas diferenças regionais mostram estados em que este índice é bem maior. A pesquisa realizada ano passado, também indicou que houve discreto decréscimo na evasão, ainda que, nos anos subsequentes, essa prática  continuou.

A baixa qualidade educacional dos estudantes revela outra consequência profundamente deletéria à economia nacional que prescinde de pessoas qualificadas. Inclusive, há o estigma da burocracia, o excesso de regulamentação fiscal, a insegurança jurídica para a instalação de empresas,  que conseguem atravessar o corredor polonês de dificuldades, que, também, se depara com a baixa qualificação da mão-de-obra, com a qual o sistema educacional brasileiro contribui para o atraso nacional. Outro reflexo, que instituições voltadas para a educação detectaram, é que apenas 17% dos egressos do ensino médio entram na faculdade. Os demais 83% vão para o mercado de trabalha de baixíssima remuneração.

O atual plano para o ensino médio, que o governo está implementando, tem recebido boa acolhida de grande parte dos especialistas. Seu principal mérito, afirmam, é tirar o ensino médio do marasmo academicista excludente, e colocá-lo num plano mais próximo do que se vem fazendo em países com melhores resultados. Desconfianças precisarão ser vencidas pela persistência na implementação de um processo que precisa vencer longuíssimos anos de estagnação. O caminho é longo, mas precisa ser enfrentado, fortalecendo disciplinas que desenvolva o raciocínio lógico, a reflexão, sem excluir disciplinas que interagem o cognitivo e habilidades humanas.

*Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA 


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