Por Roberto Veloso

Em todo o planeta as calçadas são destinadas às pessoas. A recordação dos vizinhos sentados às portas conversando ao final da tarde, das crianças brincando e dos trabalhadores e estudantes voltando para casa é maravilhosa, mas parece que nos dias atuais essas práticas estão cada dia mais difícil, seja pela violência cotidiana seja pelo completo desnivelamento entre as calçadas das residências e dos prédios.

Quanto romantismo existe nas pequenas cidades espalhadas pelo Brasil afora, quando, ao final da tarde, as pessoas podiam conversar sentadas em cadeiras nas calçadas, esperando o chegar da noite para jantarem e se recolherem. Mais ainda nas serenatas, com as moças nas janelas e os rapazes a cantarolarem canções de amor.Agora, tudo se transformou. Não se vê mais ninguém conversando nas calçadas. Todos estão trancados e protegidos por grades. Trocar ideias nas portas é algo inimaginável, perigoso, risco de ser assaltado a qualquer momento. Serenata é sonho de um divagador solitário. Não existem janelas abertas para a rua e as casas são verdadeiras fortalezas. Nos edifícios de apartamentos, o apaixonado corre o risco de ser preso por importunar o sossego público ou ser assaltado.

Quando criança e adolescente, eu ia para o colégio a pé, conhecia cada pedaço do caminho e seus moradores. Chegava ainda a tempo de almoçar com meus pais. Hoje, não mais quem tenha tranquilidade de mandar o filho a pé para a escola, foi-se o tempo.

Onde se pode caminhar não há um padrão de calçada, alguém com deficiência não consegue se locomover diante dos altos e baixos. A cidade perde em beleza e mobilidade. As pessoas disputam o espaço com os veículos nas ruas porque as calçadas estão intrafegáveis para os pedestres as pessoas.

Quem vai a Brasília sente falta de calçadas. Os eixos rodoviário e monumental não as possuem. Os eixinhos também são pobres em calçadas. O pedestre sofre. Das superquadras para se chegar ao Conjunto Nacional, que é um centro de compras, somente andando por cima da grama. O concreto da cidade contrasta com os sapatos sujos de barro, em qualquer época do ano.

Mas, por incrível que pareça, o problema não é exclusivo de Brasília. Andar em São Luís também está cada vez mais difícil. Tanto pela insegurança quanto pela ausência de calçadas em padrão compatível com o deslocamento de pessoas a pé. Chegar a qualquer das praias andando é uma verdadeira aventura. Não há calçadas a partir das principais avenidas.

Assim, não se pode chegar à outra conclusão senão a de que as cidades estão cada vez mais preocupadas com a mobilidade dos automóveis. O trânsito está cada vez mais caótico, e a impaciência das pessoas gera brigas e mortes. Triste situação.

A falta de cuidado com as calçadas está criando problemas para a saúde, porque a caminhada previne inúmeras doenças, a exemplo da diabetes, pressão alta e obesidade. Além disso, a calçada é lugar de se fazer amizades e conhecer novas pessoas. Se todos estão trancados ou se deslocando em veículos, é impossível interagir.

Jair Alves, ex-morador de rua, escreveu uma bela poesia intitulada “Velha Calçada”: Na velha calçada/Da rua das flores/ A calçada velha/Dos velhos amores/Arrancaram as pedras/ Quebraram mosaicos/Na calçada velha/Hoje é só buraco.

Sendo a calçada um local destinado à mobilidade urbana e à convivência fraterna deve ser cuidada como um fator de saúde pública. Cuidar devidamente dela é dever de todos, para o bem de toda a coletividade.


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