A prisão do senador Delcídio do Amaral (PT/MS) não incomodou seus companheiros de partido. Alheios ao fato ou sem dimensionar o seu real significado, até se comportaram como se nada tivesse com ela.

Já no dia da prisão o próprio presidente da legenda, Rui Falcão, expediu uma nota desobrigando a todos do dever de solidariedade, dizendo que ela (a prisão) ocorrera em decorrência de uma atividade “privada”, absolutamente distante dos interesses partidários.

A falta de pudor foi tamanha que “chocou” até o notório presidente do Senado da República, Renan Calheiros, que dispensou a nota os epítetos de intempestiva, oportunista e covarde.

Na linha de defesa traçada pela legenda para afastar-se do senador – que até horas antes era ouvido e opinava sobre tudo –, ainda, no mesmo dia, blogues e jornalistas amigos,  começaram a espalhar nos meios de comunicação e nas redes sociais que o preso era um tucano disfarçado, que nunca serviu ao partido e outras tolices.

Tudo isso para afastar-se, o máximo possível da ondas que tragaram o filiado enquanto este estava em plena atividade criminosa, arquitetando a fuga de um preso para o estrangeiro, e, se movendo para obstruir a ação da Justiça e assim, ele próprio, sair impune de seus atos criminosos.

Agia apenas no seu interesse? Tentava com isso proteger mais alguém? Quem? A presidente?  O ex-presidente?  Só o banqueiro amigo também preso?

Mas, isso tudo, não foi avaliado e não causou incômodo entre os filiados, simpatizantes ou simplesmente beneficiários do modelo cleptocrático implantado no Brasil.

O que parece ter despertado a fúria da companheirada foram as palavras firmes e certeiras da ministra Carmen Lúcia, do STF, ao se manifestar sobre as prisões – a do senador em especial. Disse ela: “Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós, brasileiros, acreditou que a esperança tinha vencido o medo. Depois, descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora parece se constatar que o escárnio venceu o cinismo. O crime não vencerá a Justiça”.

Estas palavras, uma espécie de quadro-resumo do que tem sido a história do Brasil de 2002 para cá, sim, incomodou, verdadeiramente, os integrantes do partido e seus discípulos.

Incomodou tanto, que  um bispo da Igreja Católica (destes que se confundiu e passou a seguir o barbudo errado) foi escalado para contestar a ministra.

Outros, com maior desassombro, passaram a fazer insinuações maldosas sobre seu patrimônio pessoal, seu conhecimento jurídico e demais estratégias do jogo sujo que estão acostumados a fazer contra todos aqueles que não rezam pela sua cartilha.

No jogo da desqualificação, talvez só sejam menos eficientes do que na prática de malfeitos contra o dinheiro do contribuinte, conforme mostram, a exaustão, as centenas de ações policiais, os processos e as condenações pela Justiça.

No processo do “mensalão” (AP 470), o alvo era o ministro Joaquim Barbosa, acusaram-no de tudo, até de ser “negro”, maldosamente, dizendo que entrara no tribunal graças à políticas de cotas raciais. Foram atrás da compra de um apartamento nos Estados Unidos e, até, de possíveis amantes que pudesse ter tido. Tudo, porque ele se mostrara um relator inflexível no cumprimento da lei contra os integrantes do partido que, sem qualquer constrangimento, saíram das páginas políticas para as páginas policiais dos jornais.

Embora não seja a relatora dos processos da Operação Lava Jato, a artilharia petista voltou-se contra a ministra Carmem Lúcia, desta vez porque ela, como qualquer brasileiro, constatou e expressou durante o seu voto, aquele que é o sentimento da sociedade, em relação ao regime que implantaram no Brasil a partir de 2003.

Eu, como a maioria dos eleitores de 2002, carrego a culpa de ter acreditado no engodo – tudo marketing – do partido de que a “esperança venceria o medo”.  Vimos no que deu, no que está dando. Usar conquistas sociais como desculpa para justificar o roubo, a dilapidação do patrimônio público, o aparelhamento do Estado, é apenas mais uma vertente da absurda e vergonhosa estrutura montada contra os interesses da nação e de suas instituições.

Arrependi-me do mau passo logo nos primeiros dias de 2003 quando vi o que estavam fazendo na formação do governo. Senti que jamais tiveram qualquer interesse em mudar os destinos do país, pelo contrário,pretendiam apropriar-se (que v/cio) da experiência dos antecessores nos “malfeitos” e sofisticar seus métodos de apropriação do Estado.

Lembro-me que em 2005, quando veio à tona todo escândalo do “mensalão” – que levou a cassação, renúncia, e, posterior, condenação e prisão de altos dirigentes do partido –, falava com um amigo que tentava justificar, dizendo que no jogo bruto da política tinham que fazer aquilo, que todos faziam, que não havia outro jeito de conduzir o país sem que faziam.

Tratava-se, obviamente, de um despropósito, justificar atos de corrupção e suborno como necessários ao funcionamento da “causa”, do bem-estar dos cidadãos, dentro dos nobres propósitos do partido.

Mas não fora isso que propuseram a combater? o toma lá dá cá? Não estaria aí, a esperança sendo vencida pelo cinismo? O cinismo de se dizer que não haveria outro modo de fazer política no Brasil senão com as mesmas prática?

Não tenho divida, o CINISMO VENCEU A ESPERANÇA.

Há um ano eclodiu mais escândalo desta mesma gente, deste grupo politico. Este, muito maior que o anterior, envolvendo bilhões e bilhões de reais, de dólares, de euros. e qualquer outra moeda com valor de mercado.

O escândalo, apelidado de “petrolão”, por ter seu foco principal na maior petrolífera do país, funcionou – e talvez ainda funcione – durante todo o período em funcionava o escândalo anterior e continuou durante o processo e condenação dos envolvidos no processo do ‘mensalão”, inclusive com o pagamento de despesas, multas, etc., decorrentes daquele processo, sendo pagas com os frutos deste outro roubo.

Não se trata de escárnio? Não teria o escárnio vencido o cinismo?

A verdade dói. Por isso o incômodo. Não ficam constrangidos, só incomodados quando alguém mostra a verdade, a nudez do rei.

Não passa um mês, um dia, sem que a engrenagem da corrupção descanse. Não há nicho no governo, no parlamento que não esteja sob a suspeita dos desvios, da apropriação, do patrimonialismo. Fortunas sendo desviadas dos cofres públicos para enricar políticos e empresários. Quantos não fizeram fortuna assim? Com desvios? Com traficância?

Por último – até aqui, temos que ter sempre esse cuidado de ressaltar que falamos no presente – temos um senador da República, um líder do governo preso, tendo sido flagrado tramando a fuga de um preso uma obstrução da Justiça. Temos um presidente de partido assumindo claramente que os atos, os malfeitos, se feitos em nome da causa serão defendidos.

Isso tudo não é o mais escancarado escárnio? Não é uma afronta aos sentimentos dos bons brasileiros que pagam seus impostos e que levam uma vida honesta.

O meu receio é, sim, que os criminosos vençam a Justiça.  Aí estaremos diante do fim.

Abdon Marinho é advogado.


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