Abdon Marinho é advogado.

Por esses dias recebi por diversas formas um vídeo mostrando bandidos aterrorizando motoristas em certa área da capital do Maranhão. Em que pese ser recente – pelo soube o vídeo começou a ser divulgado quase em tempo real em relação ao ocorrido – era muito semelhante a outros veiculados nos últimos tempos.

A rotina da violência está de tal forma enraizada que já se tornou comum na cidade  alguns setores ganharem nomes sugestivos. Uma parte da Avenida Ferreira Gullar, por exemplo, é chamada “Faixa de Gaza”, mais à frente, outra parte, já foi apelidada de “Iraque”. Talvez essas regiões nem experimentem tamanha violência.

Outro dia, um engenheiro amigo, reportou-me que ao visitar uma obra em uma parte da cidade recebeu a recomendação para que baixasse os vidros do carro, evitando assim que o mesmo não fosse metralhado. No percurso, ainda segundo ele, ia avistando “molecotes” ostentando armas. Não faz muito tempo, famílias de uma uma rua inteira, no bairro Coroadinho, foram intimadas a deixarem suas casas, refletindo que existem setores da cidade que o crime organizado assumiu totalmente o comando.

A rotina de violência vai anestesiando a população. A casa e a empresa de um amigo foram assaltadas outro dia. Ele abordou o assunto fazendo troça. Dizia que os bandidos não eram pé-de-chinelo, referindo-se ao gosto refinado dos meliantes que entre a coisas de valor subtraídas deixaram os uísques com 12 anos e só levaram os que tinham mais de 18 anos para frente.

Essa realidade é traduzida em números. A capital maranhense já figura como a terceira mais violenta do Brasil. Os números são do ano passado, que também registrou o país com  quase 60 mil homicídios/ano.

Apenas para efeito de comparação,  os Estados Unidos da América, com 320 milhões de habitantes, tiveram menos de 15 mil homicídios, enquanto no Brasil, com 203 milhões de habitantes, tivemos 58 mil homicídios, um a cada nove minutos. Sem contar que lá qualquer cidadão tem acesso a armas ao passo que Brasil só os bandidos têm.

Os números, por si, assustadores, provam que o país perde a guerra para a criminalidade. Caminhando na contramão da espiral de crescimento da violência, algumas exceções como Pernambuco e o Estado de São Paulo que registrou a menor taxa per capita, com apenas onze para cada cem mil habitantes, estando bem abaixo da média nacional.

Se os números comprovam que o país perde a guerra, o que dizer do Maranhão? Os números que fizeram a cidade se tornar a terceira mais violenta do país é o reflexo do desmonte do setor de segurança do estado nos últimos anos, a leniência, a frouxidão, a falta de investimentos, de treinamento, de inteligência, de polícia nas ruas. O que acontece hoje não pode e não deve ser atribuído ao acaso. Temos responsáveis por este caos que vivemos.

Lembro que a capital e a sua região metropolitana registrou em 2002 o número, já elevado de 240 homicídios. Hoje, esse número é superior a mil. E isso não pode ser debitado unicamente ao aumento da população. Até porque a violência cresceu num percentual bem superior ao populacional.

Sem querer ser pessimista e torcendo para está errado, não vejo uma luz no fim do túnel neste quesito. Estamos entrando no décimo mês do novo governo, o mês de setembro fechou com oitenta mortos na região metropolitana da capital. Não sei esse é um número maior ou menor que o número de mortos do mesmo mês de 2014, mas sei que é um número alto, absurdamente alto, em qualquer lugar do mundo.

A razão da angústia é ver que o estado, ao que parece, não possui uma política de segurança consistente.

Ficar comparando um número aqui outro ali é muito pouco.

O Maranhão possui, senão o menor, uma das menores relações, per capita entre agentes de segurança e população. A promessa de colocar, mil ou dois mil homens na ruas, é insuficiente para repor a enorme defasagem acumulada ao longo dos anos.

A violência se alastra por todo o estado, alcançando os municípios – mesmo os menores – e  também povoados. Não faz muitos dias soube de uma gangue de motoqueiros assaltando em povoados. Polícia atenua, mas não creio que os números que anunciam sejam suficientes para atender a necessidade.

Mas não é só.

O combate à criminalidade precisa de uma ação conjunta de todas forças de segurança, do Poder Judiciário, do Ministério Público, dos poderes municipais e perfeita harmonização com a sociedade civil. Não estamos vendo isso acontecer. Ainda no governo passado, diante das cenas de barbárie vividas nos presídios, dos incêndios a ônibus com vítimas fatais, vimos o ensaio de uma união. Nunca mais ouvi falar.

Sem a união de todos os agentes cumprindo, com eficiência, sua missão, não iremos muito longe. Ao lado desta união o combate sistemático da corrupção dentro do aparelho estatal, do judiciário, das polícias, dos executivos, etc. Precisamos apresentar uma maior eficiência na solução dos crimes com punição rigorosa aos malfeitores.

Estamos diante de problemas graves que tendem a fazer aumentar a violência. Outro dia prenderam um ônibus com inúmeros criminosos que voltavam do enterro ou velório. O que significa isso? Ora, significa que a bandidagem já age às claras sem temer o Estado. O mesmo se diga com a implantação de “toques de recolher ” ou o fechamento de determinadas áreas da cidade.

A favelização dos municípios da Ilha de São Luís, através de infinitas invasões de terras públicas e privadas, sem que as forças estatais se manifestem no sentido de impedi-las – pelo contrário parecem agir como se as estimulassem –, serão outros focos de dissabores e violência, com o favorecimento do tráfico de drogas e o próprio financiamento do crime organizado através da venda destes lotes invadidos.

As autoridades precisam traçar um plano de segurança e agirem em conjunto. Impor o império da lei a todos, apresentar resultados.

Ao momento que festejam o enfrentamento das máfias, dos corruptos, não podem descuidar dos homicidas, latrocidas, traficantes, ladrões, etc. Sem isso, iremos continuar a enfrentar a mesma rotina. A rotina da violência. A mesma que aterroriza o cidadão que sai de casa sem saber se voltará, que o faz temer ficar na rua e até mesmo dentro de casa, que teme pegar um ônibus e também a sair de carro, que o torna prisioneiro de si mesmo. Somos reféns do medo, vivemos em sobressalto.

Durante a campanha, o ainda candidato –  e hoje governador – visitou uma senhora que lhe confidenciou ser o seu maior desejo poder abrir a janela.

Pois é, já passa da hora de fazer algo neste sentido, antes que aquela senhora seja obrigada a desistir da janela, erguendo uma parede em seu lugar.


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